Cosmic Cast #40 – O SuperConsole

Amigos: gostaria de apresentar-lhes o vídeo definitivo sobre o SuperConsole. Um Cosmic Cast especial, para celebrarmos juntos o episódio de número 40 da nossa série.

Este vídeo substituirá, em breve, o conteúdo da página fixa “SuperConsole” encontrada logo acima do título deste site. Espero que curtam o passeio, acreditem: vocês nunca viram o SuperConsole como neste vídeo…

A primeira “super máquina do tempo” é única, é nossa. É brasileira. Peço, por gentileza, que os amigos divulguem este vídeo o máximo possível!

Cosmic Cast

Episódio #40 – O SuperConsole

Cliquem em Gostei no YouTube!

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A história de um emulador

Não é todo dia que você esbarra em alguém que efetivamente programou um emulador de videogame. Todo retrogamer, colecionador e até aquele nostálgico ocasional que digitou “jogar atari online” no Google pra lembrar da cara de River Raid deve muito a estes verdadeiros herois da programação.
Amigos do Cosmic Effect, gostaria de apresentar o Alan Freitas, 32 anos, residente na capital federal deste país. E, falando em ser brasileiro, este cara não desistiu e… escreveu seu próprio emulador de Master System. Insisto para que acompanhem a história do emulador do Alan, que arregaçou as mangas e saiu da tela preta!
O artigo está genuinamente emocionante. Alan, seja bem-vindo!

Uma breve retrospectiva

Faço parte da geração nascida na década de 80, tendo acompanhado o universo dos jogos eletrônicos desde o estrondoso sucesso do Atari 2600. No início dos anos 90 eu já tinha o console há alguns bons anos.

Certo dia, um vizinho me chamou para ir até a sua casa onde vi algo impressionante: o jogo Choplifter rodando no seu Master System.

Aquilo que presenciava era, de fato, um salto qualitativo muito substancial em relação ao que já estava acostumado a ver no velho Atari. O jogo era muito dinâmico, tinha uma ação ininterrupta, seus gráficos eram espetaculares e a música, empolgante.

Lembro de ter jogado um pouco e o meu desempenho não foi dos melhores. Mas isso não importava, pois o meu objetivo estava claro: eu precisava ter um Master System.

O 8-bit da SEGA.

Chopper Command do Atari 2600.

Choplifter do Master System. A evolução era notável.

Algum tempo depois ganhei o console e, ao longo dos anos seguintes, tive muitos bons momentos com ele.

Minha rotina era semelhante a de muitos jogadores brasileiros: devido ao preço dos cartuchos e a uma certa disciplina parental, o esquema era alugar os jogos no sábado, jogá-los intensamente ao longo do fim de semana e devolvê-los na segunda-feira.

Pude apreciar boa parte do catálogo da plataforma, embora sempre restassem alguns títulos cujos gráficos se mostravam bastante atraentes nos encartes que acompanhavam o console, mas eram impossíveis de se encontrar nas locadores as quais tinha acesso.

Vem à memória o jogo Basketball Nightmare, com uma cena espetacular de um garoto fazendo uma cesta, em close.

Imagem chocante no encarte do Master System…

O ponto alto do Master System foi o jogo Phantasy Star, ao qual dediquei várias horas com amigos. Sei que é chover no molhado, mas a qualidade deste título, sobretudo se levarmos em conta quando e para qual plataforma foi produzido é algo que impressiona até hoje.

Pela primeira vez pude, em um jogo, acompanhar um enredo com um certo grau de desenvolvimento, em uma escala verdadeiramente épica (estamos falando de viagens espaciais entre três planetas), com vários mistérios a solucionar e, claro, gráficos e sons de altíssima qualidade.

Impossível não admirar a fluidez com que os extensos labirintos são percorridos, assim como a bela arte realizada principalmente nas cutscenes (outro aspecto inovador) e nos monstros.

Phantasy Star, um feito maiúsculo.

Como muitos de nós, guardo um certo arrependimento por ter vendido o console com a finalidade de seguir à próxima geração. Naturalmente, precisava do dinheiro para comprar o poderoso Mega Drive, que chegava proporcionando um outro avanço tecnológico espetacular.

O nascimento da idéia

Saltemos para o ano 2003. Após concluir a graduação em Computação, senti vontade de trabalhar em um projeto no qual pudesse exercitar alguns dos conhecimentos mais relevantes estudados na universidade.

Ambicionava explorar um pouco mais a parte de arquitetura de computadores e também computação multimídia, em um contexto de programação orientada a objetos.

Tive a idéia de criar, do zero, um emulador de Master System na linguagem C++. Parecia perfeito: os requisitos técnicos e a paixão pelo tema estavam lá, juntamente com um nível de desafio apreciável. O codinome também estava escolhido: Arisa.

Arisa. Ou Alis Landale.

Definindo o escopo

Certamente que não havia necessidade de, do ponto de vista prático, desenvolver um emulador de Master System. A plataforma já contava com vários emuladores muitíssimo competentes, cada qual com sua vocação: velocidade, acurácia, filtros, ferramentas de debug, etc.

Não se tratava, pois, desde o início, de uma iniciativa para trazer à cena mais um emulador disponível na Internet para download. Como já exposto, tratava-se de uma espécie de exercício particular.

FreezeSMS, Meka, Fusion e SMS Plus.

Conhecendo a arquitetura

Decisão tomada, era necessário entender como funcionava a máquina projetada pela SEGA. Para tal, comecei a buscar informações sobre a plataforma.

Nessa fase o site SMS Power se mostrou de grande valia, reunindo muita documentação com excelente nível de detalhes.

Placa de circuito do Master System. O chip central, no alto, é a CPU Z-80.
Foto: classiccomputer.de

Emulando o Z-80

De importância fundamental em qualquer computador, a CPU é candidata óbvia a ser emulada primeiro. Busquei livros e documentações online sobre o Z-80, o processador central do Master System.

Consideremos que o jogador apertou o botão de pulo no Sonic the Hedgehog. Muita coisa acontece:

  • Entrada: é feita a leitura do estado do botão, ou seja, apertado.
  • Lógica: é feita uma verificação se Sonic encontra-se sobre o solo ou uma plataforma, o que viabiliza o salto.
  • Aritmética: o movimento de salto é calculado, levando em consideração o estado presente do personagem (posição, velocidade, etc) e a simulação física concebida pelo programador (gravidade, inércia, etc).

Como compreender o coração do Master System?

Uma questão de interpretação

Uma técnica apropriada para a emulação de um processador como o Z-80 é a chamada interpretação.

Programar um interpretador basicamente consiste em criar, em uma determinada linguagem de programação, variáveis que guardem o estado de cada estrutura interna do processador, além de reproduzir o comportamento de cada instrução, à medida em que o programa é executado.

É, de fato, análogo ao trabalho de um intérprete: trata-se de um processo de tradução, em tempo real, de uma linguagem para outra.

As coisas não são tão simples…

Fazer uma descrição completa da arquitetura de uma CPU foge do escopo desse artigo, mas podemos dizer que o Z-80 é dotado de complexidade nada desprezível.

O processaodr da Zilog disponibiliza 252 diferentes instruções (opcodes, sendo mais exato) para o seu programador. 

Anúncio do competente Z-80 na revista Electronics em 1976.
(Imagem: domínio público)

Com isso, é evidente que a quantidade de código necessária para implementar o interpretador também é substancial.

Além de relativamente longo, o processo também trazia uma série de dúvidas: será que eu estava indo pelo caminho certo? Será que minha interpretação da documentação estava correta?

E se eu tivesse falhado em compreender algum conceito fundamental e todo aquele código sofresse de algum vício dificilmente sanável? 

Bem, não havia muitas opções a não ser estudar atentamente o material e codificar com cuidado.

Passei algumas semanas programando o interpretador. Implementei o que os programadores chamam de um “ambiente de debug”.

Amigos leitores, finalmente a palavra “jogo” aparece: com este ambiente pronto, eu podia acompanhar as alterações nos valores armazenados nas entranhas do Z-80 e da memória, durante a execução do Alex Kidd in Miracle World.

Apesar de não poder ter certeza, as coisas pareciam ir bem: eu conseguia ver que um jogo carregado parecia estar inicializando o processador e memória RAM emulados, num processo análogo ao de um PC ao ser ligado.

Também via o que parecia ser o carregamento de dados (gráficos, músicas?) na memória, entre outras coisas. 

Porém, era apenas uma visão “binária” naquele momento.

Não havia qualquer imagem do jogo rodando, como quando estamos, er… jogando.

Faltava outra peça-chave: o processador de vídeo (VDP).

Entrando no mundo dos pixels

Hoje temos nos PCs e consoles placas de vídeo com um poder computacional absurdo, que conseguem renderizar imagens com um grau de realismo realmente impressionante.

Na época dos 8-bit, os processadores de vídeo eram relativamente primitivos, e o limitado poder computacional das CPUs de então também deixava as coisas mais complicadas.

Como produzir gráficos atraentes e dinâmicos em uma velocidade aceitável? 

A resolução de 256 x 192 pixels do Master System pode parecer pífia para os padrões atuais, mas estamos falando de quase 50 mil pontos na tela. Era impossível manipular cada um deles de forma individual em tempo real. A solução clássica, simples e genial: Tiles.

Asterix, com os tiles ressaltados…

Como vocês estão carecas de saber, qualquer jogo da época, por mais complexos ou sofisticados que sejam os seus gráficos, é uma espécie de mosaico.

Os artistas desenhavam todos tiles de tal maneira que, arranjados corretamente, eles se integrassem de forma harmoniosa na tela.

…aqui, o conjunto de tiles usado na cena anterior…

Os tiles são formados a partir uma paleta de 16 cores para os sprites e mais 16 cores para o cenário.

Essas cores podem ser escolhidas dentro de um universo de 64 possíveis.

Paleta

…e, por fim, a paleta de cores da mesma cena.


Como estamos lidando com um hardware que possui muito pouca memória, se for possível reutilizar um mesmo tile fazendo seu espelhamento isso pode economizar bytes preciosos.

Assim, tínhamos belos gráficos em tela cheia.

Alguns efeitos colaterais curiosos apareceram. Inconsistência do ponto de vista físico era um dos campeões e hoje pode ser considerado um charme peculiar ao visual dos jogos eletrônicos.

Note a iluminação na cena abaixo.

Espelhamento de tiles em Phantasy Star.
Repare que a cena é perfeitamente simétrica, até nas sombras…

Tamanho não é documento

Após sentir-me seguro com a emulação do Z-80, o processador de vídeo era o próximo desafio. Menos código que o da CPU, porém com muitas particularidades e uma boa dose de complexidade.

É uma forma de conceber a montagem e exibição de imagens bem peculiar; muito diferente do que se faz na computação hoje em dia.

Aqui as inseguranças se intensificaram. No Z-80, eu inspecionava seu estado ao longo da execução. Dava pra ter uma impressão do funcionamento.

No caso do VDP… eu trabalhava às cegas, sem ter por muito tempo uma interpretação da representação binária em debug que me auxiliasse.

Fui em frente, esperando que meu entendimento dos documentos estivesse correto…

Uma grande emoção

Após algumas semanas, terminei a codificação da emulação do VDP. Junto com a emulação do Z-80 e das memórias RAM e ROM, também concluídas, isso deveria ser suficiente para executar um jogo comercial.

Claro que certamente existiam bugs no meu código; Mas, com sorte, talvez um jogo rodasse, ainda que de forma defeituosa.

A hora havia chegado: carreguei a ROM de Alex Kidd in Miracle World e após breves instantes de tensão…

 Nada além de uma tela preta.

Animador…

De certa forma, era esperado. Muito código e, pela própria natureza do problema que ele se propunha a resolver, um pequeno bug em qualquer trecho poderia causar uma falha em exibir qualquer coisa que lembrasse o jogo original.

Tentei outros jogos, com esperança de que algum funcionasse. Nada feito.

Um aspecto cruel de um emulador é que, diferentemente da maioria dos softwares, você muitas vezes não tem idéia de onde pode estar o problema do seu código. Isso porque o programa se comporta como a máquina na qual o jogo executa, mas o desenvolvedor do emulador pouco ou nada sabe sobre o código do jogo em si!

Paradoxalmente, é aí que reside a beleza pouco convencional do conceito da emulação: o jogo executando nada “sabe” sobre estar executando em um emulador, e não na máquina real.

A beleza de dar vida a um cartucho de Master System sem consumir espaço físico…

Por outro lado, o programador do emulador nada sabe sobre o código do jogo em si. Ele “apenas” implementa um software que se comporta como um hardware.

Não é necessário saber programar um jogo para aquela máquina. À medida que eu me embrenhava nas entranhas daquilo tudo, observando internamente a execução dos jogos… foi possível perceber a qualidade excepcional daqueles programadores.

Pude ver, desta vez com olhos de programador, quão impressionante eram seus resultados em plataformas tão limitadas.

Voltando aos bugs do nosso emulador. Foi um processo longo e tedioso. Todo programador sabe que criar código é bacana. Corrigi-lo, quase nunca. 

Após finalizar essa primeira revisão geral (dias depois), carreguei Alex Kidd in Miracle World novamente e… 

Escutou a musiquinha daí?

Funcionou! A tela de apresentação apareceu, mostrando várias cenas do jogo. Logo em seguida começou a demonstração: Alex Kidd percorria a fase em alta velocidade com a sua motocicleta!

Um momento de grande emoção, pois era o resultado de um longo trabalho sem resultados intermediários. Julguei, algumas vezes, que poderia ser, no fim, algo infrutífero de minha parte.

Mas não foi!

Alex Kidd: um cara maneiro.

Inevitável também o sentimento de nostalgia dos tempos da jogatina no Master System real. De alguma forma eu me aproximava um pouco mais daqueles admiráveis engenheiros, programadores, artistas gráficos, músicos, entre outros, que deixaram, com sua inteligência e criatividade, um legado tecnológico e cultural bastante relevante.

Uma mancada

Ao ver o game executando com aparente perfeição, o instinto falou mais alto: meus dedos deslizaram para o teclado, visando efetivamente jogar o jogo.

A demonstração seguiu, inabalada.

Claro: eu não havia implementado o input do joystick!

Ávido por jogar Alex Kidd sendo “empurrado” por Arisa, consultei correndo a documentação sobre o console, para aprender sobre o joystick do Master.

Até que foi rápido — bonus stage? — e pude, então, jogar Alex Kidd in Miracle World.

Mais algumas correções, rumo a uma conclusão 

Depois dessa primeira partida, rapidamente testei outros jogos. A maioria executou sem problemas, mas alguns apresentaram inconsistências, como comportamentos bizarros nas colisões ou nas cores. 

Corrigi mais alguns bugs, o que fez com que mais jogos executassem perfeitamente. Ainda restavam alguns detalhes que poderiam ser melhorados. Nesse período eu também comecei a programar a emulação do som. 

Havia, entretanto, uma nítida queda na motivação. Sentia que o desafio particular que havia proposto a mim mesmo tinha sido superado. Como nunca pensei em disponibilizar Arisa para terceiros, acabei abandonando o projeto aos poucos. 

Hoje não julgo provável retomar o desenvolvimento, mas foi algo no qual gostei muito de trabalhar. Sem dúvida foi um dos softwares mais legais que programei.

Valeu a pena.

“Linguagem de comunicação

Confesso que tive dúvidas sobre a redação desse texto no que diz respeito ao escopo.

Ao mesmo tempo que emuladores têm importância central no universo retrogamer, é muito fácil se aprofundar em questões excessivamente técnicas que podem alienar um leitor que, embora interessado no assunto, não esteja familiarizado com arquitetura de computadores ou programação. Dessa forma, tentei mesclar a tecnologia com os aspectos mais humanos e históricos.

Não sei se fui bem-sucedido, mas estou à disposição para tentar dirimir dúvidas, fornecer algum aprofundamento ou ainda esclarecer algum ponto que não foi devidamente explanado.

Muito obrigado aos leitores do Cosmic Effect!

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Retro Mall, uma loja virtual de itens para retrocomputadores

Não tem jeito, acho que faço mesmo parte do braço retrocomputacional do Cosmic Effect. Não à toa fiz a cobertura de uma das edições do MSXRio em 2011 e também apareci no Cosmic Cast da Feira de Antiguidades da Praça XV usando uma camisa do MSX.

É certo que jogo videogames desde a primeira geração, já brinquei com Telejogo, Intellivision, Odissey, Atari 2600 etc., mas tenho uma quedinha muito grande pelos retrocomputadores.

Quando pequeno, tive um MC 1000, da CCE, e depois um MSX Expert, da Gradiente, e já naquela época, em meados dos anos 80, comprava a revista Crash, especializada no micro ZX Spectrum, pra ficar babando pelos lançamentos europeus.

A Crash trazia anúncios de jogos que rodavam não só no Spectrum, mas também no Amiga, Commodore 64, Atari ST e Amstrad CPC — alguns dos sonhos de consumo enquanto criança. Imagina ficar admirando esses micros, naquela época inace$$íveis…

Outro fator que me fazia comprar a revista britânica Crash — que na época só era encontrada em bancas de jornais dos aeroportos aqui do Rio — era saber que muitos dos lançamentos europeus do ZX Spectrum ganhariam um port para o MSX. Já comprava a revista pensando nisso.

O tempo vai passando, chega o padrão IBM-PC, a Internet e continuo apaixonado pelos retrocomputadores. Atualmente, não tenho um MSX — micro do coração (vendi um Expert 1.0 para comprar um 2.0 que, posteriormente, pifou), mas sou proprietário de um Amiga 600, um ZX Spectrum +3 e um Commodore 64. Sim, como é bom realizar alguns sonhos de infância, não é mesmo, amigos?

Mas por que estou contando essa historinha? Primeiro porque senti necessidade  de frisar o interesse particular pelos retrocomputadores. Gosto mesmo da coisa, talvez mais do que dos consoles. Mesmo quando coloquei o MSX de lado pra dar espaço pro recém-comprado Master System, logo senti saudades do micrinho.

Mas o segundo motivo é o que tem a ver com o título do artigo. Recentemente criei uma lojinha virtual focada em itens novos, seminovos e usados para retrocomputadores. A lojinha ganhou o nome de Retro Mall (uma referência a Shopping Mall) e, felizmente, já fez suas primeiras vendas. O Cosmonal foi um dos que adorou a ideia e sugeriu que eu compartilhasse com todos por aqui do Cosmic Effect.

Como surgiu o Retro Mall?

Tudo começou quando mandei um email pro Ricardo Pinheiro do Retrocomputaria Podcast — e um dos organizadores do MSXRio — procurando um conector DIN-6 para montar um cabo de força pro meu Spectrum.

Falamos sobre a dificuldade de encontrar alguns itens retrocomputacionais. Neste exato momento, tive um estalo. Deste papo virtual e da minha necessidade em encontrar alguns cabos e adaptadores, surgiu a idéia do site, da lojinha. Adqurir um retrocomputador já é uma grande passo, mas e se você quiser ligar na TV e faltar um cabo RF? E se não veio a fonte? E se você desejar conectá-lo ao seu monitor LCD e não tiver o cabo apropriado?

A lista continua: E se você quiser um adaptador IDE para rodar os jogos a partir de cartões SD ou CompactFlash? Sem contar contratempos como cabos partidos, conectores difíceis de serem encontrados, peças adicionais que não vêm junto com o pacote etc. Essas coisas realmente tomam muito tempo, exigem paciência, e, às vezes, nos fazem esbarrar com preços astronômicos em sites de leilão (vocês sabem disso).

Da necessidade somada à vontade de colaborar com a comunidade retrocomputacional de alguma forma, nasceu o Retro Mall. A ideia é oferecer itens novos e usados — cabos, adaptadores, conectores e por aí vai — para plataformas como Amiga, C64, MSX, TK, ZX Spectrum e outras. Todas as fotos dos itens que aparecem na loja estão senfo feitas por mim, em still ou não, para que o público possa ter noção do produto real.

O melhor de tudo é que extraio um grande prazer. É um hobby antes de qualquer coisa, e não uma forma de lucrar abusivamente em cima dos outros. Me sinto como um mercador (justo) em Tatooine (se você curte Star Wars, vai entender) ;-)

Outra coisa bacana sobre o Retro Mall. No universo dos retrocomputadores, existem verdadeiros anjos que dedicam parte do tempo na produção de itens que possibilitam que um micro antigo se relacione com tecnologias mais recentes. Exemplos típicos: um adaptador IDE para ZX Spectrum, um cabo para ligar o MSX em um monitor LCD ou um adaptador para conectar joystick de um PC no Amiga. Esses caras são dignos de respeito e apreciação de nossa parte. Sem eles, é capaz de uma cena inteira morrer. Logo, penso em oferecer futuramente o Retro Mall como uma opção de espaço para comercialização dos tais itens sacros que essa turma produz.

Bom, acho que é isso. O objetivo aqui foi mostrar também a paixão e o real interesse que existe no cenário dos micros antigos. O Retro Mall ainda não tem muitos itens, mas aos poucos vão pipocando coisas por lá. Agradecimentos também ao Ricardo do Retrocomputaria, que ajudou na divulgação.

Adoraria ouvi-los nos comentários. Vamos trocar ideias e estou empolgado o suficiente para dizer que aguardem artigos e Casts sobre games retrocomputacionais aqui no Cosmic Effect. \o/

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Games como estimulantes do raciocínio (ou o que podemos aprender com eles)

Por Mario Cavalcanti

Está na moda falar sobre como os games podem ser aliados da saúde e da educação, assim como está na moda falar sobre a relação dos jogos eletrônicos com o jornalismo (newsgames) e com a publicidade (advergames). O que poucas pessoas devem perceber, no entanto, é que os games, não de hoje, são grandes estimulantes para a lucidez e para um rápido raciocínio.

Você já passou por alguma situação em que depois você disse “isso eu aprendi com o jogo X” ou “isso é mais difícil do que passar daquela fase do game Y”? Se sim, saiba que você não é o único. Brincadeiras à parte, acredito que os jogos realmente estimulam o raciocínio, ajudam em tomadas rápidas de decisão e podem até mesmo contribuir na formação do caráter de uma pessoa.

Sem estender muito, relacionei abaixo alguns dos games que fizeram parte da minha infância e adolescência e que – acredito – ajudaram a estimular meu raciocínio. Aproveitei para fazer uma brincadeirinha, acrescentando as habilidades aprimoradas/adquiridas a partir desses jogos.

Pac-Man (Atari 2600 – Namco – 1980)

Outro dia estava pensando que aprendi alguma coisa com o simpático Pakkuman, mas não lembrava o que era… Comer muito? Não, não foi isso. Ingerir pílulas alucinógenas? Tão pouco, minha onda é outra. Pensando um pouco mais no jogo, lembrei que o Pac-Man contribuiu para um raciocínio rápido, mas no que diz respeito a olhar adiante e prever o melhor caminho a seguir. Não basta você desviar de um fantasma, é preciso ver os que estão adiante para saber se você foi na direção certa. É como num jogo de xadrez, você tentar prever as próximas jogadas do adversário. Coloquei na lista o Pac-Man do Atari e não do arcade, porque como muitos de nós brasileiros, joguei-o muito mais do que o original dos fliperamas.
Habilidades aprimoradas/adquiridas: Pensar Adiante; Tomada Rápida de Decisões.

River Raid (Atari 2600 – Activision – 1982)

Quem nunca jogou River Raid acelerando a nave ao máximo e tentando desviar de todos os obstáculos? Acelera para passar no meio das ameaças, desvia, reduz para pegar o máximo de combustível, acelera de novo, reduz outra vez, desvia, acelera, reduz, chega o máximo que der pro canto da tela, acelera novamente… River Raid é assim. E acho que dispensa comentários e apresentações. Ah, sim, claro, e não deixe de atirar, né? Aqui também caberia o Smash TV (Arcade – Williams – 1990), outro primor da coordenação motora.
Habilidades aprimoradas/adquiridas: Coordenação Motora; Reflexo; Noção de Aceleração

Megamania (Atari 2600 – Activision – 1982)

Um dos shooters mais conhecidos do Atari 2600. Criado por Steve Cartwright e lançado pela Activision em 1982. Eu tinha seis anos quando toquei nesse jogo pela primeira vez. No início, achava que a única forma de aniquilar com aquele exército à la Space Invaders – incluindo a nave em forma de hamburguer voador – era ficar apertando o botão que nem um louco. Tempos depois, eu e meu irmão percebemos que as naves se moviam de uma maneira que, se você pressionasse o botão regularmente de forma periódica, ia destruindo as naves uma a uma. Essa coisa de atirar no momento certo é abordada também pelo Cosmonal no não tão distante Cosmic Cast #33, dedicado ao Shinobi.
Habilidades aprimoradas/adquiridas: Timing.

Sokoban (MSX – ASCII – 1984)

No Brasil o Sokoban ganhou o curioso nome de Fiscal de Estoque. Você controla um bonequinho (o fiscal de estoque) que deve organizar as caixas corretamente no depósito (o estoque). Se você posiciona uma caixa de forma errada e a deixa presa, já era. Sabe aquela coisa de deixar as pessoas saírem do elevador antes de você entrar, e não o contrário? E quando o elevador está vazio, você entra e se posiciona no fundo, e não na porta, para que o próximo entre e possa se acomodar? Bom, o Sokoban é mais ou menos isso. Não é só questão de educação, mas também de raciocínio e lógica.
Habilidades aprimoradas/adquiridas: Aprimoramento do Raciocínio; Senso de Organização.

Double Dragon (Arcade – Technos Japan – 1987)

O Cosmonal, o Euler e o Andrey vão pensar: “Tinha de ter Double Dragon na lista do Mario”. Bem, nesse caso não é por se tratar de um dos  games favoritos, mas sim por ser, talvez, o primeiro game que eu quis jogar até o final, sozinho, por conta própria, sem ninguém ajudando, não importando quantas fichas fossem necessárias. Quando comecei a jogar Double Dragon no arcade, o achava um jogo bem difícil; mas, de tanto tentar, acabei me tornando bom no negócio, modéstia à parte, a ponto de zerar qualquer máquina do Double Dragon com apenas uma ficha, em qualquer fliperama por aí. Sim, a prática leva à perfeição…
Habilidades aprimoradas/adquiridas: Persistência; Resiliência.

Tetris (Arcade – Atari Games – 1988)

Tetris, Tetris… Você não poderia deixar de estar nessa lista, até porque não paro de pensar em você, nem quando estou arrumando as compras no carrinho do supermercado. Pois bem, o clássico criado pelo russo Alexey Pajitnov em 1984 (e que chegou nos arcades em 1988 pela Atari Games) sem dúvida contribuiu e muito no desenvolvimento do meu raciocínio. Não, não sou um gênio, mas o Tetris nem de longe é só um simples game, ele vai bem além disso (merece estar no Hall of Fame eterno dos jogos, não é mesmo, amigos?).
Habilidades aprimoradas/adquiridas: Senso de Organização; Tomada Rápida de Decisões.

Wolfenstein 3D (MS-DOS – id – 1992) / Doom (MS-DOS – id – 1993)

Por fim, pode parecer ridículo, mas foi jogando Wolfenstein 3D e, posteriormente, Doom que tive a clara noção de que se eu estou fazendo um trajeto a pé e viro à direita, no trajeto de volta basta eu virar à esquerda. Depois desse estalo, acho que nunca mais me perdi na rua ou em um shopping. Um amigo costuma dizer que eu sei andar bem no Centro do Rio de Janeiro. Então, tento explicar o conceito do FPS: é fácil! Se na ida eu faço direita-direita-esquerda, na volta eu devo fazer esquerda-direita-direita. Ajudou ou confundiu?
Habilidades aprimoradas/adquiridas: Senso de Direção.

Conclusões?

Como a proposta do Cosmic Effect é fazer um link entre os retrogames e os jogos atuais, cabe dizer que muitos dos novos jogos são recheados de cacacterísticas que estimulam nosso raciocínio e que podem até mesmo nos fazer enxergar o mundo por um prisma diferente. De conceitos como achievements e moedas sociais, podemos extrair muitas coisas. Os games nos ensinam muito até hoje, independente da plataforma ou da idade que você tenha.

Outro ponto que vale ressaltar é que, da lista acima, três jogos são do Atari 2600. E isso não é à toa. Foi o primeiro console que tive (como muitos de nós por aqui), era um pequeno garoto ainda. Isso mostra que, certamente, aquilo que você começa jogando ainda novo, influenciará mais tarde de alguma outra forma em sua vida.

Bem, essa foi apenas uma breve lista. Tenho certeza que, se valoriza os games como algo que vai além do puro entretenimento, você também deve ter uma lista dessas na sua cabeça. Convido os amigos a compartilharem conosco nos comentários!

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Cosmic Cast #36 – A Magia Do Atari 2600 – Terceira Parte

“Racing the Beam”. O famoso livro que tenta explicar o relacionamento entre a técnica e a expressão criativa permitida pelo Atari 2600. Certamente uma leitura recomendada a todos os grandes criadores de jogos atuais. Eles terminam a vida dos consoles sem conseguirem explorar todo o poder do hardware. Talvez não haja mais esta preocupação; por extrapolar em algo.

No Atari 2600, aconteceu exatamente o inverso: a máquina foi deixada para trás…

Amigos, esta é a última parte da nossa saga em homenagem aos 40 anos da Atari. O sentido da existência deste episódio reside nas lembranças que vocês compartilham conosco ao assistirem o vídeo. Nós, genuinamente,  agradecemos todo o feedback positivo e igualmente apaixonado de todos. Vocês fizeram, literalmente, esta “trilogia Atari” conosco.

Parados na frente da TV
vimos um castelo de cores que,
de repente, nos encheu
de sonhos, para sempre…

Cosmic Cast

Episódio #36: A Magia Do Atari 2600 – Terceira Parte

Cliquem em Gostei no YouTube!

Se não assistiu a primeira parte:

Cosmic Cast #36 – A Magia do Atari 2600 – Primeira Parte

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