Inaugurada no dia 22 de outubro, a Chrono Games 2004 é uma espécie de “loja retrogamer com uma pitada next-gen para dar gosto”. Um sonho de consumo para colecionadores de jogos antigos. Como a loja fica no Rio de Janeiro, claro que o nosso Retro Repórter Mario Cavalcanti apareceu por lá e providenciou a nossa cobertura cósmica. Em meio ao papo da galera lembrando de coisas do tempo em que comprávamos a revista Videogame sem ter console algum em casa, o Mario ainda bateu um papo com o Marcos Felipe, proprietário da loja e conhecido colecionador da lista Canal-3.
Dificilmente há no Brasil um outro empreendimento como este. O Felipe atendeu um desejo de 10 entre 10 consumidores de videogames em nosso país: ter uma loja de varejo onde a pessoa que te atenda compartilhe da mesma paixão pelos jogos, não sendo somente mais um vendedor treinado. No mundo real, não dá pra esperar por isso sempre que você entrar numa loja que vende videogames. Mas na Chrono Games 2004, isto é uma realidade. O ambiente lembra aquelas lojas japonesas que estamos acostumados a babar assistindo vídeos pelo youtube.
Para quem não vive no Rio de Janeiro, o Cosmic Effect leva até você os close-ups (sim, em Full HD ^_^) nos cartuchos lindíssimos (alguém pensou em Odyssey aí?) que a loja retrogamer tem para nos oferecer. A aconchegante loja do colecionador é um convite ao colecionismo de jogos antigos. Sem mais delongas…
Cosmic Fast
Episódio #16: Chrono Games 2004
—
Observem com atenção este Cosmic Fast e encontrarão algumas
“cameo appearances” de certos retrogamers bem conhecidos por todos nós…
Ah, falando nisso, no Gagá Games, você encontra todos os detalhes
sobre a visita à Chrono Games do ponto de vista do velhinho retrô ;-)
Não deixe de pintar por lá também e ler o post
do Orakio que saiu junto com este Cosmic Fast:
Além dos videogames, a outra paixão pessoal que alimento bastante é o basquete. Mais precisamente, a NBA – a famosa liga profissional dos EUA. Acompanho desde a década de 80 pela TV e sempre fiquei admirado com a plasticidade das jogadas de atletas como Michael Jordan, Larry Bird, Charles Barkley e Magic Johnson realizavam. Graças a este último, logo adotei o Lakers como time de coração e o basquete como esporte que iria praticar pelo resto da vida, apesar de não ser um jogador tão bom assim (risos).
Antes do retrogaming
Peço licença aos amigos leitores do Cosmic Effect para compartilhar a realização de um dos meus maiores sonhos: assistir um jogo da NBA ao vivo! O sentimento de satisfação pessoal foi indescritível, foi aquela sensação de sonho de infância… realizado! No momento em que entrei no Madson Square Garden, em Nova York (uau!), sentei na minha poltrona, pensei: “Caramba! Estou aqui mesmo?!”
A paixão pelo esporte de gente alta nasceu de verdade enquanto ainda vivia no interior da Bahia. Assistindo a extinta TV Manchete em algum lugar do passado, foi exibido um filme sobre um time de basquete que teve seu navio naufragado enquanto viajava. Foram parar numa ilha deserta, mas o treinador não deu trégua: convocou os jogadores para treinarem basquete, lá mesmo. Cocos como bolas, bambus e coqueiros formando a quadra improvisada: era o suficiente para mil malabarismos, enterradas, passes incríveis olhando para o outro lado e muito mais! “The Harlem Globetrotters On Gilligan’s Island” foi um filme de 1981 produzido para televisão e que apresentou integrantes do famoso time de exibição Harlem Globetrotters no elenco.
Foi amor à primeira vista! Muito divertido esse tal de basquete e esses jogadores do Harlem são muito engraçados. Tinha sido cativado neste dia… Ainda vou assistir um espetáculo deles ao vivo.
Conecte as coisas, Euler, conecte as coisas…
Estamos aqui para falar de basquete ou sobre games? É que, neste caso específico, ambos estão fortemente conectados, como irão perceber durante a leitura.
Já em Salvador, por volta de 1991, um colega de escola viajou pros EUA e trouxe um Sega Genesis com Last Battle, Shadow Dancer e o lançamento do momento, um tal de Sonic The Hedgehog. Fui até a casa dele e o primeiro cartucho a adentrar o slot do Mega Drive americano foi Sonic. Depois do usual êxtase e gritaria “que jogo lindo” e “que música maravilhosa”, trocamos para o incrível Shadow Dancer, terminando pelo decepcionante Last Battle. Mas, o melhor mesmo ainda estava por vir: havia um quarto cartucho, emprestado.
Era da Electronic Arts, maior que os outros, destaque amarelo ao lado… chamou a atenção à primeira vista. “Lakers Versus Celtics” ao lado da logomarca oficial da NBA… “coloca isso aí, agora!”.
Logo de cara os gráficos me chamaram a atenção. Nossa! Muito bem feito! A animação dos jogadores era realista e detalhada – era possível reconhecê-los pela aparência e jogadas. O James Worthy usava aqueles óculos engraçados, o Michael Jordan dava o Air Reverse idêntico à jogada mítica que fez contra o Atlanta Hawks. O Barkley dava a enterrada do gorila! Até o detalhe da barba do Vlad Divac era visível. E, no intervalo, um comentarista falava algo sobre a partida e ainda mostrava o replay das melhores jogadas. Uau!
Deste dia em diante, comecei a famosa campanha: “Pai, Me Compra Um Mega Drive”. No aniversário daquele ano, a campanha terminava com um belo Mega Drive japonês. E o primeiro cartucho o amigo leitor já sabe qual foi. A paixão pelo basquete me fez deixar de lado o MSX e voltar aos consoles (antes do MD, só o Odyssey) graças a este título da EA, motivo da escolha pela SEGA nos 16-bit :)
Um jogo de basquete muito acima da média
Antes de Lakers Versus Celtics, provavelmente todos os jogos de basquete eram medíocres. O Atari e o Odyssey apresentavam títulos que, mesmo levando em conta o hardware simples, deixavam a desejar. O MSX, com seu formidável acervo, não trouxe nenhum do gênero que empolgasse. O Fernan Martin Basket era só “bem mais ou menos”.
Já no Mega Drive, a boa impressão vem desde a tela de abertura: uma música muito bem produzida dá o cartão de boas vindas ao jogador (Nota do Cosmonal: a trilha é do genial Rob Hubbard, mesmo de Road Rash, The Immortal, Desert Strike e diversos outros sucessos da EA no Mega Drive). Ao iniciarmos, temos as usuais opções de partida amistosa ou disputar uma temporada inteira. Há também opções de escolha de dificuldade, duração do jogo e outros ajustes relevantes.
Tema de Abertura de Lakers Versus Celtics And The NBA Playoffs
(por Rob Hubbard)
A variedade de times que pode ser escolhida atende muito bem e proporciona um ótimo fator replay. Podemos escolher quaisquer dos semi-finalistas dos playoffs da NBA da temporada 1989-90, além dos times do All-Star, tudo separado pelas respectivas conferências (leste e oeste).
A atenção aos detalhes impressionava na época. Como dito, a caracterização dos jogadores é tão boa que nos permite reconhecer cada jogador sem olhar os números da camisa. Até mesmo os jogadores reserva das equipes estão lá, perfeitamente caracterizados.
As estatísticas dos jogadores são reais e influenciam no desempenho dos jogadores. Um jogador como o Larry Bird, que tem mais de 90% de aproveitamento nos lances livres, acertará mais arremessos daquele tipo do que um jogador com menor percentual.
Fora da quadra, o treinador do time comemorava um boa jogava ou reclamava de uma cesta perdida. As regras do esporte são respeitadas, com um juiz ativo, apitando qualquer irregularidade.
Realmente o jogo proporcionou um salto de qualidade nas produções para videogame deste esporte e pode ser considerada, sem sombra de dúvidas, a fonte inspiradora para as super-produções atuais, como o grandioso NBA 2K11.
O clímax da minha história com Lakers Versus Celtics do Mega Drive
Joguei muito Lakers Versus Celtics. Foi, de longe, o cartucho mais jogado no Mega Drive, mesmo porque foi o único por um bom tempo. Ganhava fácil do computador, chegando a fazer mais de 300 pontos numa única partida. Era uma pena que esse tipo de jogo não dispunha de um score, muito menos um leaderboards online, para que eu pudesse medir meu nível em relação aos outros jogadores da época. Realmente não fazia ideia se eu era um bom jogador: não haviam referências.
Mas, eu tive uma oportunidade de testar minhas habilidades.
Certa vez, numa visita ao Eric, ele estava com um cartucho do Lakers Versus Celtics, talvez o meu próprio emprestado – não lembro exatamente. Estávamos jogando outros jogos até que ele me intimou: “vamos jogar uma partidinha de Lakers vs Celtics?”
Sabem aqueles filmes de faroeste em que sempre há um momento onde o pistoleiro desafia o outro para um duelo ao meio-dia? Foi mais ou menos assim o desafio que o Eric me fez (risos).
Desafio aceito, cartucho inserido no console. Eric, muito sacana (risos), escolhe logo o Lakers, que era o melhor time – e o que eu sempre jogava.
Não poderia haver cenário mais desfavorável: meu oponente era o melhor jogador de Mega Drive da Bahia, jogando em casa (isso faz diferença em videogame?), jogando justamente com o melhor time do jogo – e o que eu era acostumado a jogar. Pronto, me lasquei…
Mas eu tinha um vantagem sobre Eric: conhecia muito mais NBA que ele. Praticamente todos os jogadores, times, suas virtudes e fraquezas – tinha tudo de cor. Vou escolher o Boston Celtics! O Larry Bird é o maior arremessador da história, o Kevin McHale e o Robert Parish são umas das melhores duplas de garrafão da NBA. Vou explorá-los à exaustão! Talvez assim eu tenha uma chance.
A partida foi muito disputada. Nos alternamos na liderança do placar, por diversas vezes. A disputa mais difícil que já tive e, tive a impressão que para o Eric também, pelos palavrões que saíram involuntariamente de sua boca (risos). No final, vitória do Boston Celtics e um grande suspiro de alívio de minha parte. Havia vencido a peleja!
Eric, por sua vez, não comentou nada, mas sei que não se esquece desse dia…
Nessa viagem que eu fiz aos EUA, comprei uma camisa da NBA para mim: a número 33 de Larry Bird do Boston Celtics (risos)!
SCORE
GAMEPLAY: Um perfeita transposição de uma partida de basquete 5/5
GRÁFICOS: Nível de detalhes absurdos para a época. Cada jogador estava corretamente caracterizado 5/5
SOM: Apresenta todos os sons esperados de uma partida de basquete. O juiz fala suas marcações com uma voz digitalizada 3/5
TRILHA SONORA: Por incrível que pareça para um jogo de esporte dessa época, a trilha sonora é excelente. A música da abertura gruda na cabeça e até mesmo durante a partida, a música não cansa 4/5
DIFICULDADE: Era muito fácil ganhar do console. Quando se aprende a manha de roubar a bola, as partidas podem se tornar entediantes. Desafio mesmo só jogando com um oponente à altura 2/5
DADOS
NOME: Lakers Versus Celtics And The NBA Playoffs PLATAFORMA: Mega Drive DESENVOLVEDORA: Electronic Arts ANO: 1991 DISPONÍVEL TAMBÉM: PC (MS-DOS, 1989)
Maior rival do Atari 2600 na primeira metade dos anos 80, o nosso Odyssey fez relativo sucesso no Brasil. Graças a uma excelente estratégia de marketing, que se apoiou na regionalização dos seus títulos e no teclado alfanumérico, que dava um aspecto mais educacional ao console, o Odyssey deu trabalho à concorrência — apesar de sua inferioridade técnica.
Com minhas 8 primaveras completadas, começava a me sentir encantado por essas diversões eletrônicas: havia chegado o momento de ganhar meu primeiro console!
Escolha complicada na época: Atari ou Odyssey?
Devo confessar: fui uma das “vítimas” dos marketeiros da Phillips na época. Aproveitando o estrondoso sucesso do filme Os Trapalhões na Serra Pelada, tiveram a fantástica ideia de batizar o título “Pick Axe Pete” como “Didi na Mina Encantada”. Criaram uma nova capa bem simpática com o Didi, muita publicidade e pronto: tinham um system seller! Como qualquer criança brasileira da época, era absolutamente apaixonado pelos Trapalhões. Como resistir ao apelo de jogar um videogame com nosso maior herói, o Didi Mocó?
Além disso tudo, meu pai via com bons olhos o teclado que acompanhava o console. Lembrava uma máquina de datilografia! Talvez acreditasse que eu pudesse aprender a datilografar com o Odyssey (risos). Imagino que, talvez, alguns dos nossos amigos leitores possam nunca ter visto uma máquina de datilografar, mas nos anos 80 era a ferramenta de trabalho principal nos escritórios. Aprender datilografia para conseguir um emprego era tão importante como saber usar o MS-Office hoje em dia!
Surpresas no dia da compra!
A guerra dos consoles lá de casa teve um vencedor: O Odyssey! Aniversário, Natal… não lembro exatamente. Sei que, naquele dia, um fato inusitado ocorreu, que remete ao título revisitado: Ao comprarmos o console, meu pai permitiu a escolha de um cartucho extra. Logicamente… escolhi o jogo do Didi! Então, em tese, teria 4 jogos para me divertir: o do Didi e os 3 que já vinham no console (Criptologic, Interlagos e F1).
Antes de levar, o console foi testado na hora. O vendedor ligou numa TV que estava em exibição e trouxe um certo jogo que parecia usar para demonstrar o Odyssey na loja. O cartucho tinha aquele aspecto de produto de mostruário mesmo, estava sem o adesivo frontal. Em seu lugar tinha escrito a lápis: “Come-Come”.
Meu pai pediu para que eu jogasse um pouco, para confirmar se o console estava funcionando mesmo: tudo ok, o moço da loja embalou o Odyssey e levamos pra casa. Ao chegarmos, apressadamente fui abrindo a caixa. Para minha surpresa… o vendedor havia esquecido o cartucho do Come-Come dentro da caixa, ainda conectado ao console (risos)! Mais um jogo, de “presente”!
Eufórico, pedi ao meu pai para ligar o Odyssey. Mas, para minha surpresa (outra?), minha primeira jogatina durou menos de 10 minutos: o console pifou. Depois de várias tentativas naquele dia, constatamos que o console travava após alguns minutos ligado, provavelmente ao esquentar. Por azar, o defeito não aconteceu no momento do teste na loja. Tive que passar o fim de semana inteiro paquerando o Odyssey, morrendo de vontade de jogar — que castigo!
Meu pai ficou de levá-lo para trocar na semana seguinte. “Não fala nada do cartucho, viu?!” — falou pra mim (risos). Bem, a loja não aceitou a troca; fomos para a assistência técnica. Foram mais algumas semanas angustiantes de espera, mas o Odyssey retornou funcionado perfeitamente. Enfim, sós!
Mais um clone do Pac-Man?
Naquela época, o Pac-Man era o que havia de mais legal em diversões eletrônicas. A Atari logo lançou sua versão para o console caseiro e fez muito sucesso, ainda que tenha sido um port “polêmico”. A Magnavox percebeu que tinha que fazer alguma coisa e, desta forma, nasceu o K.C’s Krazy Chase (o nosso “Come-Come!”) para brigar com o Pac-Man.
No jogo, controlamos o Come-Come (“Munchkin” no original americano), um bichinho peludo azulado. O objetivo é comer todas as pílulas presas ao corpo de uma centopeia para passar de fase. Só que existem 2 fantasmas e a cabeça da própria centopeia que nos atacam. O Come-Come precisa abordar a centopeia por trás e, somente assim, conseguir comer as pílulas. Quando isso acontece, os fantasmas ficam brancos e podem ser devorados pelo Come-Come. Podemos também comer uma pílula que está numa posição intermediária da centopeia. Quando isso acontece, as demais pílulas se desprendem do corpo, sendo deixadas no labirinto. Portanto, o básico para um clone do Pac-Man está aqui: o labirinto, os fantasmas e as pílulas.
Porém, a grande sacada do Come-Come foi mesmo a centopeia. No Pac-Man, as pílulas que permitem que o Pac-Man fique invulnerável e devore os fantasmas ficam nas extremidades do labirinto, em locais fixos. Para os jogadores mais habilidosos, é possível criar estratégias para se jogar indefinidamente o Pac-Man do Atari — lembro bem que o Eric conseguia fazer isso. Também sempre tive a impressão que o Pac-Man entrava em looping quanto a progressão da dificuldade. Parecia que, ao chegarmos a um determinado ponto, a dificuldade regredia para depois voltar a aumentar. Não tenho certeza se isso procede, mas sempre tive essa sensação, tal qual acontecia com Frogger do Odyssey.
No Come-Come, com as pílulas nas costas da centopeia se movimentando velozmente pelo labirinto, adicionava um fator de aleatoriedade ao gameplay que simplesmente não existia no Pac-Man. Outro ponto positivo é a dificuldade acentuada. A progressão ocorre de tal forma que, já a partir da 4ª-5ª fase, o jogo torna-se bem rápido e difícil. A partir daí, o jogador deve permanecer na defensiva fugindo dos fantasmas e da centopeia, até surgir uma oportunidade de comer as pílulas. A combinação: randomicidade, velocidade e dificuldade, na minha humilde opinião, tornam Come-Come um jogo superior ao Pac-Man!
Pac-Man é infinitamente mais popular que o Come-Come, inclusive tornando ícone da cultura pop, como todos sabemos. Mas o Come-Come é um jogo superior. Vou ser apedrejado pela comunidade retrogamer por dizer isso (risos)!
Foi uma situação muito parecida com a que ocorreu alguns anos depois com o Final Fight e Streets of Rage. SoR nasceu como um clone do FF, mas penso que o jogo da SEGA superou o original.
O dia do campeonato
Nós, gamers, adoramos testar nossas habilidades. E um campeonato é perfeito para isso. Então, juntamente com meus coleguinhas, decidimos organizar uma contenda de Come-Come lá em casa. Coisa que se fazia nos tempos offline dos videogames, com razoável frequência.
Na época (1984), acho que nem conhecia o Eric, ou não eramos muito próximos, pois ele não participou da peleja. Eu era amigo de um outro garoto chamado Márcio Levy, por sinal vizinho do Eric. Apesar de ter outros jogadores, sabia que ele era meu único rival, pois também tinha Odyssey também e era ótimo jogador. Meu pai até comprou medalhas, especialmente para este dia!
Treinei bastante antes do campeonato. Mas Come-Come é um jogo extremamente imprevisível… como pude constatar naquele fatídico dia de 1984.
Puxando pela memória, lembro que meu pai organizou o campeonato da seguinte maneira: jogávamos várias partidas e, no final, calculava a média de pontos obtida por cada participante. Eu não joguei bem naquele dia, não consegui repetir o desempenho dos treinos — meu rival e amigo Márcio Levy jogou muito bem e ganhou a medalha de ouro e eu terminei com a prata :-(
Mas, a lembrança mais forte que ficou daquele dia foi minha reação ao perder o campeonato: me acabei de chorar (risos)! Aos 9 anos de idade acho que era um péssimo perdedor. Lembro de ter me trancado no quarto, emburrado — não queria falar com ninguém (mais risos). Márcio Levy lembra disso até hoje e não perde a chance de me alfinetar. O cara já está com seus 40 anos de idade, casado e com filhos, mas não esquece daquele dia (risos)!
Anos depois, meus pais se divorciaram e meu pai foi morar em São Paulo. Em 2001, no dia do meu aniversário, ele fez uma visita e trouxe de presente uma caixinha preta:
– Euler, estava lembrando daquele campeonato de videogame…
Curioso, abro a caixinha e…
Aquele campeonato de videogame tinha me feito chorar pela segunda vez…
SCORE
GAMEPLAY: O que o Pac-Man gostaria de ter sido e nunca foi… 5/5 GRÁFICOS: O jogo era bem colorido e a animação do Come-Come era bem simpática. Não lembro de gráficos melhores no Odyssey 5/5 SOM: Dita o ritmo da partida, ajuda a aumentar a adrenalina… apesar de ser chato. Dizem que o Come-Come funcionava com um adaptador que permitia vozes digitalizadas no Odyssey, mas nunca vi 3/5 TRILHA SONORA:N/A DIFICULDADE: A aleatoriedade e a velocidade crescente dos inimigos à medida em que passamos de fase tornam o jogo realmente difícil 5/5
DADOS
NOME: Come-Come! (K.C.’s Krazy Chase! nos EUA) PLATAFORMA: Odyssey (Odyssey² nos EUA) DESENVOLVEDORA: Magnavox ANO: 1982
Amigos do Cosmic Effect: o Marcus Garret estará lançando o seu ótimo livro sobre os acontecimentos que envolvem o ano de 1983 do ponto de vista da nossa indústria, do nosso mercado brazuca de videogames. O livro é fabuloso, eu comprei minha cópia pelo email do Marcus e posso assegurar: é uma viagem no tempo, cada página. Preços dos videogames em cruzeiros nas propagandas da época, os clones brasileiros dos cartuchos/videogames cheios de criatividade e até mesmo jogos que só foram lançados aqui no Brasil, em cartucho. Ah, e muito mais :) Para os felizardos que moram na capital de São Paulo, ele estará lançando oficialmente no dia 5 de agosto de 2011, na UZ Games do Shopping Ibirapuera.
O release completo com o anúncio do lançamento:
—
A ACIGAMES em conjunto com a rede de lojas UZ Games irá realizar na unidade UZ Games Ibirapuera, no dia 05 de Agosto (sexta-feira) a partir das 19:00h o lançamento do livro 1983 – O ano dos videogames no Brasil, de autoria do especialista Marcus Vinicius Garrett Chiado, que estará pessoalmente presente no dia distribuindo autógrafos.
O livro, que é fruto de anos de pesquisa do autor, conta a história da entrada dos videojogos em nosso país (com ênfase no console Atari 2600), e é leitura obrigatória para todos que quiserem entender nosso fascinante mercado.
Serviço
O que:
Lançamento livro 1983: O Ano dos Videogames no Brasil
Um recado do Marcus Garrett, para os interessados em adquirir o livro:
Já estou de posse do valor final do livro “1983: O Ano dos Videogames no Brasil”: R$ 45,00 com o envio incluso para qualquer parte do país. Porém, ele está em promoção de lançamento: quem efetuar o depósito até sexta-feira, dia 01 de julho, pagará R$ 39,99 e ganhará ainda o FRETE GRÁTIS para qualquer lugar do Brasil.
O email para aquisição do livro diretamente com o Marcus é o euquero1983@gmail.com.
—
Amigos do Cosmic Effect, tive um breve bate-papo com o paulistano Marcus Vinicius Garrett Chiado, autor do livro “1983: O Ano Dos Videogames No Brasil”. O Marcos é um colecionador de videogames antigos (e também de Transformers, He-Man, Thundercats…) e faz parte de uma das maiores comunidades de colecionadores de videogames/computadores do Brasil, a Canal 3. Através do mailing list, soube que o Marcus está prestes a lançar um livro que retrata um ano muito especial para os videogames no nosso país – o ano de 1983, período que simbolizaria a “chegada dos videogames ao Brasil”. Através de extensa pesquisa em fontes saudosas como a revista SomTrês, Vídeo News, Micro & Vídeo e também publicações maiores como Veja e Exame, ele deseja mostrar como as empresas nacionais desenvolveram suas idéias, como foi a aceitação por parte dos consumidores daquela época e diversos outros detalhes. Puxa, prato cheio pra qualquer trintão brasileiro que começou no Telejogo, Odyssey ou Atari. A idéia do cara foi super-original, fiquei imediatamente curioso em saber o que há de tão especial no ano de 1983. Eu tinha 5 anos de idade e o Marcus 10 anos – ele certamente lembra de muito mais coisa do que eu :)
Sempre buscando embasar-se nas publicações citadas e também através de informações de amigos que também vivenciaram o período, o livro tem aproximadamente 120 páginas que exploram com profundidade os sistemas Atari, Odyssey, Intellivision, Colecovision e outros – tudo no contexto brasileiro. Possui muitas ilustrações e fotos que adornam o conteúdo, e até inclui algumas entrevistas inéditas. A diagramação ficou pronta exatamente hoje (na data deste post) e algumas páginas estarão aqui no bate-papo para nos deixarem com (mais) água na boca. Vamos conhecer um pouco mais do Marcus e do seu livro tão esperado pelos retrogamers brazucas.
—
Eric:Com a imensa popularidade que os videogames alcançaram nos últimos anos, parece ter surgido com ela um crescente interesse em retratar a história dos jogos eletrônicos. Em 2008, saiu a primeira publicação oficial do Guinness, que tem se mantido anual desde então – um exemplo de canais reconhecidos da mídia agora também passearem pelos videogames, tratando-os com seriedade. Como começou seu interesse pela história dos videogames?
Marcus: Apesar de não colecionar mais, fui colecionador de games por uns 15 anos. O interesse surgiu ao constatar quão rico é o cultivo da história dos aparelhos no exterior e quão pobre é isso no Brasil. À exceção da revista de banca OLD!Gamer e de algumas publicações hobbysticas, o interesse do brasileiro parece estar mais no ato de colecionar, não tanto em documentar. Nossa história gamística é tão rica por causa de particularidades que aconteceram no Brasil, tais como a política de Reserva de Mercado. É muito triste ver isso se perder.
E:Você era editor da Jogos 80, revista online publicada exatamente no mesmo período em que passei a colecionar videogames e jogos antigos, por volta de 2005 – lembro deste detalhe particular porque achava o máximo a revista, até imprimi algumas edições e certamente me estimularam ainda mais a comprar “velharias”. O que aconteceu com o projeto, ele está parado? Há interesse de voltar?
M: Era não, ainda sou. A revista ainda existe. Ocorre que de uns tempos para cá passamos a publicá-la com espaços de tempo bem maiores. A mais recente saiu em dezembro de 2010, mas já estamos preparando a próxima, que sairá em julho agora. Aguardem por matérias, reviews e entrevistas muito legais!
E:O Brasil passou por todos aqueles conhecidos problemas nos anos 80, e um dos principais teria sido a famigerada “reserva de mercado”. Ao mesmo tempo, tal fato criou a cultura dos clones que, no final das contas, marcaram nossa história. Conte-nos porque 1983 foi o ano dos videogames no Brasil.
M: 1983 foi o ano em que, efetivamente, as empresas nacionais resolveram arregaçar as mangas para colocar à venda, “oficialmente”, os primeiros consoles no Brasil. Claro que, por meio de contrabando e de vendas na Zona Franca de Manaus, os videogames já chegavam ao país desde fins dos anos 70. Só que em 1983 os primeiros consoles foram realmente produzidos por aqui e chegaram às lojas, tornando-se acessíveis à população. Foi quando a febre do videogame acometeu o Brasil!
E:Qual conteúdo encontraremos no seu livro?
M: Eu procurei contar, sem “encher linguiça”, em que termos os primeiros videogames foram lançados, como as empresas nacionais se envolveram e desenvolveram suas idéias e estratégias, de que modo foi a aceitação por parte dos consumidores e outros detalhes. Tentei também – e sempre que possível – embasar as informações com dados reais retirados de publicações da época (jornal Folha de São Paulo, revista Veja, revista Exame, revista Vídeo News etc.). Faz muito tempo, faz quase 30 anos!
Importante ressaltar que o livro somente contém informações acerca dos primeiros aparelhos vendidos no país: Atari e similares, Odyssey, Intellivision e Colecovision. Não há material algum, por exemplo, sobre NES, Master System, Mega Drive etc.
E:Quais foram suas principais fontes de informação? Imagino que possua coleções de Micro Sistemas, CPU-MSX, Ação Games… elas fizeram parte do seu material de pesquisa?
M: Bem, além da memória de quem viveu o período, utilizei os acervos digitais do jornal Folha de São Paulo e da revista Veja, bem como outras publicações da época, tais como as revistas Exame, Micro & Video, Vídeo News e Video Magia, além de alguns sites muito bons. Pesquisei muito mesmo!
E:Qual seu console e micro-computador antigo favoritos?
M: Meu console do coração é o Atari 2600 mesmo. Ganhei o meu no Natal de 1983. Foi muito bacana, tenho inúmeras boas recordações do “inimigo”. Meu micro clássico favorito é o Atari 800, que não chegou a ser fabricado no Brasil. Estes são os únicos dois itens que ainda mantenho.
E: Fala pra gente seus 5 jogos favoritos, em qualquer plataforma.
E:O que acha da geração atual de jogos eletrônicos? Você joga nos consoles atuais?
M: Eu acho bacana. Há jogos verdadeiramente fascinantes. Só que, para mim, os consoles modernos não têm o mesmo impacto, o mesmo “frescor” de antigamente. É questão, de fato, de nostalgia, tenho de concordar. Eu possuo um Xbox 360 com o Kinect, mas quem jogam mesmo são minha esposa e minha filha. Elas adoram jogos como Dance Central e Kinect Sports.
E: Ainda falando em geração atual, a durabilidade dos consoles foi posta em xeque por conta de aparelhos falhando sob condições normais de uso, alguns até mesmo em menos de 1 ano – e sendo condenados. O videogame atual é um produto descartável ou estas falhas têm motivos técnicos e serão corrigidos com o avanço tecnológico?
M: Creio que esses problemas decorram da pressa de se lançar consoles cada vez mais complexos antes da concorrência. Acredito que os projetos não sejam testados à exaustão, ou seja, a pressa para bater a concorrência é tanta que os produtos vão parar nas prateleiras um tanto prematuramente. Esta é a impressão que tenho. “O importante é chegar na frente!”
E: O que acha do “movimento retrogaming” ganhando força e popularidade, através de publicações periódicas impressas como a britânica Retro Gamer ou mesmo a OLD!Gamer brasileira, fora a infinidade de sites e blogs sobre o assunto?
M: Eu acho bacana. É importante cultuar o passado, reviver coisas que foram muito importantes para nós. Só não pode virar obsessão, deixar de ficar com a família para ficar com os games ou viver exclusivamente do passado.
Um dos grandes problemas da vida adulta é que, com frequência, esquecemos das coisas que um dia foram importantes. Um dos grandes males do Homem é esquecer-se.
E: Para terminar, como e quando poderemos adquirir o seu livro?
M: O livro teve sua diagramação finalizada exatamente hoje. Estou montando uma lista de interessados para poder dimensionar a impressão. Peço a todos que tenham interesse que, por favor, enviem e-mail para euquero1983@gmail.com.
Quando a coisa estiver bem engatilhada mesmo (em até uma semana, creio), as instruções para compra serão enviadas. O livro tem preço máximo de R$ 50,00, mas este valor pode cair se houver bastante procura.