Esmagação X Processamento

Por Eric Fraga.

Ah, Decathlon. Em tempos de Wii e seus jogos desconcentrados despretenciosos não consigo esquecer dos pingos de suor que rolavam ao jogar o “Olimpíadas” da Activision no Atari 2600 contra até outras 3 pessoas. Acho que nunca derramei uma gotinha de suor jogando Wii Sports (risos) – mas tudo bem, devo brincar muito pouco com o jogo mais vendido da história dos videogames (o tal Wii Sports é “o tal”).

Com o joystick nas mãos, o lance era jogar para um lado, para o outro, para um lado, para o outro, sem parar, o mais rápido possível e só – nas provas de corrida de 100, 400 e 1500 metros rasos pelo menos. Tinha gente que ia muito bem nessas, “tremia” o joystick (técnica para obter a máxima velocidade nas provas de somente corrida) e arrasava. Mas, nos 110m com barreiras, por exemplo, alguns jogadores se perdiam – porque além da velocidade, era necessário timing perfeito nos pulos. Poucos saltos onde o “Pitfall Harry” tocava na barreira eram suficientes para garantir a vitória do amiguinho mais lento na corrida, porém mais preciso nos pulos.

A partir daí, muitos jogos passaram a premiar a precisão temporal do nosso relaxante apertar de botões. Neste início, principalmente os jogos de nave. Herança da alta dificuldade dos arcades, os schmups dos consoles em sua maioria não ofereciam tiro contínuo (ou rapid fire, como preferem os fãs do Master System). Então, além de se desviar das hordas de inimigos e sua chuva de projéteis, tínhamos de caprichar no speed do botão do tiro principal. E tome esmagação. Como visto no “gráfico” que abre esta incursão, o processamento do jogo, por limitação de hardware ou por decisão do programador, descarta muitas pressionadas de botão.

Até mesmo diante da empolgação gráfica e sonora que o jogo imprimia na experiência, alguns gamers reagiam mandando bala o tempo todo – e não percebiam que aquela estratégia não ajudava tanto. Defender do Atari 2600 é um shmup da própria Atari com uma boa dose de estratégia e que já premiava o jogador que não sentava o dedo o tempo inteiro: o tiro (um raio, neste caso) tinha sua trajetória interrompida – se o inimigo estivesse distante, ele deixaria de ser atingido. Space Invaders e Yar’s Revenge limitam a apenas um tiro na tela – mesmo assim alguns jogadores entravam num “modo rapid fire” e cansavam os dedos à toa, provavelmente para não terem de se preocupar em manter o ritmo.

A geração seguinte continuou sofrendo influência dos arcades trazendo shmups de scroller horizontal/vertical e em perspectiva para os consoles. R-Type no Master System era considerado um dos melhores jogos de nave para consoles domésticos da época. Nele, o timing adequado do jogador nos tiros ajudava, principalmente quando sua nave estava com o tiro mais simples. Astro Warrior, outro shmup do mesmo console, premiava o tiro certeiro destruindo fileiras inteiras de certos inimigos.

After Burner no Master System apresentava dois ataques: o míssil teleguiado, acionado pelo famoso “fire” na versão original do arcade e por um blip no 8-bit da SEGA, e o canhão. Se o botão do canhão for pressionado rapidamente, o caça solta 3 tiros e dá uma enorme pausa até o próximo projétil, penalizando o jogador. Se dividir o tempo, distribuir os 3 tiros e na próxima apertada de botão você segurá-lo, seu timing fica “salvo” e basta seguir pressionando. Sutil, mas ajuda muito a destruir aquelas fileiras de inimigos na diagonal clássica da SEGA (Space Harrier, Thunder Blade…).

Nos computadores, Prince of Persia introduzia o realismo nas animações dos personagens em um game de plataforma. E o pulo neste jogo é um exemplo de gameplay refinado e que requer precisão: até pressionar a tecla (ou botão, para quem o conheceu somente nos ports para console mais tarde) mais fortemente o game nos estimulava. Isso porque o timing do pulo não era “o momento do pulo” – esta precisão representava o  esforço necessário para executar aquela ação. Vi muito coleguinha na época que se frustrava com a dinâmica do pulo de Prince Of Persia no PC e gostava só de olhar o outro jogar, apreciando as animações absurdas – em tempos de Castlevania e Shinobi sendo o supra-sumo das animações realistas nos videogames, aquela fluidez só era encontrada nos MS-DOS e Amigas da vida.

O timing preciso foi incorporado ao gameplay em diversos outros gêneros, até mesmo onde a ação não é o foco. Em Super Mario RPG, no Super Nintendo, precisão no tempo causa dano dobrado pro encanador e sua trupe. Em Final Fantasy 8 do PlayStation o limit break de Squall dependia muito de timing para causar mais dano. Tales of Vesperia no Xbox 360 apresenta um final strike que depende do apertar de botão na hora exata para acontecer. Claro que temos todos os jogos de luta lotados de combinações que requerem timing preciso – até Double Dragon era possível vencer na esmagação, mas após a Capcom inventar Street Fighter isso acabou… E não podemos nos esquecer dos jogos musicais, moda atual nos consoles modernos que requer timing para garantir a impressão de que o gamer toca guitarra.

E temos Bayonetta.

Ah, Bayonetta. Não, não estou me referindo à protagonista. Até poderia, mas não é o caso. O objetivo é tratar do fantástico sistema de combos herdado de Devil May Cry. A continuação espiritual da famosa franquia aprofundou os combos de tal maneira que, acredito, nada parecido foi feito em videogames neste aspecto. O game se torna até impossível de se jogar, mesmo na dificuldade normal, se o jogador não se esforçar para conseguir os combos que requerem pausas. Tanto que o jogo da SEGA apresenta um modo easy que é mais do que fácil: é automático. Um dos produtores explicou o por quê: “Queríamos aumentar o público, permitindo que jogadores menos experientes aproveitem o game inteiro, sem necessariamente terem de investir tempo”.

O investimento em timing é pesado para pelo menos você conseguir terminar o jogo. Lutas ordinárias com os bichinhos entre os chefões têm o sucesso da voluptuosa japonesa determinado pela realização dos combos. E estes são longos e, os melhores, os mais eficientes, os que dão mais dano são os que contém pausas de meio segundo entre as pressionadas. Imagine no calor da batalha – e elas são pelo menos duas vezes mais intensas do que em DMC4, diria eu – você ‘smashando’ com toda sua força nos combos sequenciais e o que acontece? A bruxa morre. Só que a bruxa neste caso é o seu personagem.

Esta característica isolada garante deliciosos “momentos hardcore next-gen” do início ao fim deste grande jogo da SEGA atual. As dezenas (talvez umas 50 possibilidades) de combos geram um efeito colateral divertido: você errou uma sequência, há uma boa chance de executar outro combo similar. Mas isso não tira você do controle do personagem de maneira alguma. Assim como em DMC, o jogo premia a variedade de combos executados em cada fase. E, ainda sobre o timing, o famoso “Witch Time” de Bayonetta é divertidíssimo: você desvia no último momento de um ataque inimigo, o jogo entra em slow menos Bayonetta – hora de caprichar nos combos.

Enfim, este é um ótimo exemplo do que a geração atual tem de bom e propiciando desafio para jogadores que acompanharam a evolução dos videogames. Que desde Combat do Atari ou Senhor das Trevas no Odyssey se preocupa em manter-se no ritmo – mesmo quando não está jogando Guitar Hero…

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A Música De Final Fantasy 6

Um festival de música de qualidade.

Por Danilo Viana

Um jogo que não pude jogar na era 16 bit. Finalmente pude ter contato com ele graças aos emuladores, e sinto-me arrependido de não tê-lo jogado antes. Estou me referindo a Final Fantasy 6 – ou 3, como foi lançado nos EUA. Este jogo é simplesmente fantástico, capaz de arrancar lágrimas dos fãs da aclamada série. Se você é um dos poucos seres humanos da face da terra que gosta de RPGs e não o experimentou, faça-o e logo: compre usado para Super Nintendo, pegue um emulador, roube de alguém (brincadeirinha, hehe) mas JOGUE-O AGORA. Após o lançamento original para SNES, ele foi relançado para PSOne e Nintendo DS, então não há desculpas para continuar cometendo nenhum pecado.

A música de Final Fantasy 6, assim como a dos cinco anteriores e a do famoso Final Fantasy 7, foi criada por Nobuo Uematsu. Trata-se de uma trilha sonora não menos que fantástica e que põe a prova todo o poder do DSP do Super Nintendo, com canções que usam muito mais que os três ou quatro instrumentos vistos comumente em videogame music.

A música Prelude é o tema principal de toda a série, pertencendo às aberturas de todos os Final Fantasies desde o primeiro da série.  Esta canção foi baseada em um dos prelúdios de Bach e mostra de cara o talento de Uematsu para criar canções que marcam.

Nobuo Uematsu

Vale notar que, antes da série Final Fantasy, não era muito comum o uso de música erudita em jogos de videogame. Até mesmo os capítulos anteriores da série utilizavam música classica muito “levemente”, normalmente limitadas ao título ou ao último chefe do jogo. Foi em Final Fantasy 6 que Uematsu resolveu se inspirar no estilo erudito para criar a maior parte das canções. Uma coisa que impressiona é que cada um dos QUATORZE personagens que compõem a equipe tem sua própria música tema e história pessoal – é bastante detalhe por personagem para um jogo com tantos, um excelente trabalho da Square Enix – na época SquareSoft – e de Uemastu.

Uma de minhas canções favoritas – e de 14 entre 10 fãs de Final Fantasy 6 – é a famosa ópera cantada pela personagem Celes (Ceres na versão japonesa). Esta é Aria de Mezzo Carattere.

Sniff… é de botar marmanjo pra chorar.

Mas não só de protagonistas vive um bom jogo – os antagonistas também são responsáveis por grande parte do charme de um RPG. No quesito vilões, Final Fantasy 6 dá um show a parte, trazendo um dos vilões mais insanos e odiosos da série Final Fantasy – e porque não dizer de qualquer outro RPG para consoles – o malígno Kefka.

KefkaÉ muito comum, em RPGs para consoles, os vilões serem os mais genéricos possíveis, com motivações clichês e uma necessidade estapafúrdia de matar pessoas “só porque ele é muito mal” – mas não é o que acontece aqui. Acredito que entre os vilões mais memoráveis dos RPGs de videogame estão Sephiroth e Kefka, mas existe um gostinho especial em derrotar o segundo; Kefka é simplesmente LOUCO e suas motivações são erráticas e interessantes. Pense no Coringa do Batman e você vai começar a ter uma idéia de como a mente deste cara funciona. Se você terminar o jogo gostando de Kefka aconselho seriamente que você procure um psicólogo, ou melhor, um psiquiatra.

Como vilão de respeito que é, Kefka merece sua própria música – ou músicas – já que aqui ele tem várias. Seu grande tema é a música Dancing Mad (apropriado, não?) e na trilha sonora oficial do jogo ela é dividida em 5 partes que, juntas, superam os 17 minutos de duração: One Winged Angel? Que nada. Isso que é música tema de respeito. Aqui eu lhes a apresento, dividida em duas partes:

Final Fantasy 6 tem muitas outras músicas que valem mencionar e, se eu desejar falar da metade delas, seria melhor escrever um livro. Então o que recomendo a você, leitor, é que providencie este jogo e jogue. Caso você não possa jogar, esteja sem tempo ou ache esse troço de RPG “um saco”, recomendo pelo menos escutar sua ótima trilha sonora: tenho certeza que não vai se arrepender.

Para fechar este post, recomendo mais algumas músicas para vocês aproveitarem. Fica como dever de casa procurar por elas, ok? Até a próxima.

  • Terra’s Theme
  • Shadow’s Theme
  • Edgar and Sabin’s Theme
  • The Fierce Battle
  • Searching for Friends

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