O adeus ao Xbox 360 do Gagá

No final do ano passado, eu vinha devorando todo tipo de informação sobre o Wii U, visto que as franquias da Nintendo são minhas favoritas. Mas o lançamento do Wii U acabou se revelando uma grande decepção, com preço alto e jogos escassos. Achei que seria melhor esperar as coisas esquentarem e dar um ano para o console antes de comprá-lo.

Como eu estava naquela fome de comprar um console novo, parti para o Xbox 360. O preço estava bom, e como eu vinha de longos anos de retrogaming, havia muitas franquias modernas que eu queria conhecer. Comprei o bichinho (sob veementes protestos da minha esposa, que achou o console enorme, horroroso, um desastre para a estética da nossa sala etc) já pensando em vendê-lo um ano depois para comprar o Wii U. Conforme o planejado, anunciei o bichinho no Mercado Livre e comprei o Wii U na semana passada (o Xbox ainda está à venda, caso alguém esteja interessado).

Vou fazer um post falando sobre o Wii U para vocês, mas desta vez eu quero mesmo é contar como foi o ano que eu passei com o Xbox 360. Afinal, valeu a pena comprar o console da M$ ou foi uma grande roubada?

Valeu a pena comprar o Xbox 360?

Já respondendo à pergunta: valeu sim, com certeza. Tirei o meu atraso com várias franquias icônicas que até então eu nunca tinha jogado: comprei o remake do primeiro Halo (Halo Anniversary) e curti o jogo apaixonadamente até o final. Acho que até desenvolvi um certo apego retrô ao jogo, porque há algumas semanas peguei Halo 3 e achei o primeiro muito melhor ^_^ Joguei um pouco de Assassins Creed II, e embora não o tenha terminado, consegui entender por que o jogo é tão popular. De posse da coletânea Metal Gear Solid HD Collection, finalmente joguei Metal Gear Solid 2 e 3, que eram enormes rombos no meu currículo (visto que sou fã de carteirinha do Metal Gear Solid de PSX e curto a franquia desde os tempos do MSX).

O feroz confronto com uma imensa horda de alienígenas na selva de Halo Anniversary foi um momento inesquecível do ano que passei com o Xbox 360

Após anos de abstinência, voltei a me deliciar com Final Fantasy. O último que eu havia jogado tinha sido FFIX, no primeiro Playstation, e para minha surpresa adorei o tão odiado Final Fantasy XIII. Apostei no Dark Messiah of Might and Magic, mesmo em meio às críticas extremamente negativas que li, e fui premiado com uma das experiências gamers mais gratificantes do ano. Fiquei surpreso com o pouco apreciado Divinity II, um RPG que mistura habilmente características de RPGs de computador e de console (como não gostar de um RPG onde a gente pode virar dragão e cruzar os céus PanzerDragoon-style?). Depois disso tudo, quase pirei com os enlouquecedores puzzles e seios fartos dilemas morais do esquisitão Catherine.

Não sucumbi aos tão adorados shooters do console. Minha breve experiência com Call of Duty foi desastrosa e não me animou muito. Achei Gears of War interessante, mas não o suficiente para que eu fosse além do que uma demo me ofereceu. Comprei Borderlands 2 e o primeiro Crysis, mas se joguei meia hora de cada foi muito. Nesse sentido, acho que a experiência de jogatina moderna deste retrogamer que vos escreve não foi tão herética quanto imaginei que seria a princípio.

Esqueçam as críticas mocorongas: Divinity II é um RPG maravilhoso!

Aliás, a jogatina retrô também marcou fortemente meu ano com o Xbox. Curti muitos remakes e “remixes”. Sempre dou risada quando lembro dos meus intensos esforços para desbancar o recorde do Eric no Pac-Man Championship Edition DX (foram muitas semanas tensas de “vou bater o recorde, vou bater o recorde… não bati” até que finalmente eu conseguisse). Também lembro de uma divertida tarde em que “esbarrei” no Rafa e no ANTIDEUS online, e acabamos todos disputando uns rachas no Daytona USA.

Na arena naturalmente retrô dos indies, delirei jogando Mark of the Ninja, o primeiro jogo de ninja que realmente fez com que eu me sentisse como um. Sem muita pretensão, Hell! Yeah! Wrath of the Dead Rabbit me conquistou e proporcionou horas e horas de diversão com jogabilidade retrô de alta qualidade e um humor negro genuinamente divertido (há tempos não ria tanto com um jogo). Por fim, o excelentíssimo Dust: An Elysian Tail me tacou na parede e me chamou de lagartixa: o jogo é uma delícia, com gráficos lindos e jogabilidade divertida. Se você não tem Xbox, aproveite que saiu no Steam outro dia.

Gente, QUE MARAVILHA o Dust: An Elysian Tail. Pela madrugada!

E por favor, nem me falem em Minecraft. Senão, vou ter que contar do corredor suspenso que eu construí, do observatório que ergui no alto de uma montanha, da minha aconchegante casinha de dois andares e do medo infernal que eu sinto quanto escuto os esqueletos e as aranhas em volta dela durante a noite. Fiz até uma cerca para manter os bichos longe da minha janela, mas ainda assim eu sinto medo. Muito medo.

Skyrim… ah, Skyrim…

Mas o grande barato do meu Xbox foi mesmo Skyrim. Já devo ter quase 200 horas de jogo e não me canso. Acredito que não seja exagero dizer que Skyrim é a realização do sonho de todos os amantes de RPGs que cresceram jogando os Phantasy Star e Final Fantasy clássicos — e se isso que estou dizendo lhe soa familiar, é porque o Danilo roubou descaradamente a minha fala outro dia num episódio do Games com Café :P  Tudo o que a gente sonhava em ver num jogo quando moleque, seja em termos gráficos ou em termos de liberdade, Skyrim torna real.

Bati essa foto da minha TV. Observem o dragão pousado lá no alto, sobre a rocha, no meio da tela. É ou não é lindo esse jogo?

Eu realmente endoidei com Skyrim. O mundo é vasto, lindo e cheio de coisas acontecendo. Há sim uma quest principal e vários eventos roteirizados, mas quem mergulha mesmo nessa aventura logo para de JOGAR Skyrim e passa a VIVER em Skyrim. Mais cedo ou mais tarde, na estrada que o leva à “conclusão” da missão principal, alguma coisa vai cruzar seu caminho, te seduzir e te arrastar para cada vez mais longe daquele caminho. Há sim muitas missões a serem cumpridas, mas as melhores histórias em Skyrim são aquelas que não estão no script; felizes combinações de situações aleatórias que criam uma história só sua.

Certa vez, vi um dragão voando e decidi enfrentá-lo. “Estacionei” meu cavalo numa área protegida por árvores, fui enfrentar o dragão e voltei. Quando cheguei, o cavalo estava morto. Fiquei olhando para o corpo dele no chão pensando no que poderia ter acontecido, quando subitamente uma flecha disparada logo atrás de mim passou zunindo pela minha orelha direita. Ouvi um barulho; levantei os olhos e um esqueleto armado com uma espada se desmontou todo na minha frente. Enquanto eu estava distraído olhando para o cavalo, o esqueleto saiu do meio das árvores e ia me acertar um golpe certeiro, mas minha parceira de viagens, que estava mais recuada, me salvou em cima da hora com seu arco.

Cavalos podem parecer desperdício de dinheiro em Skyrim, mas as boas histórias que eles geram fazem a grana valer a pena

Claro, comprei outro cavalo depois disso. Um dia, explorando as planícies geladas de Skyrim, encontrei um esconderijo de bruxas. Saltei do cavalo, matei as bruxas todas e quando saí… cadê o cavalo? Procurei, procurei e nada. A noite caía e começava a nevar furiosamente, eu já não estava enxergando nada direito. Decidi voltar para uma cidade ali perto e continuar as buscas no dia seguinte.

De manhã cedo, voltei ao esconderijo das bruxas. Fiquei rondando aquele pedaço, na esperança de topar com o cavalo, ou pelo menos com o corpo dele para virar logo essa página. A tarde chegou, e voltou a nevar com força. Eu estava prestes a desistir do bicho quando, bem ao longe, no meio da neve, vi umas luzes brilhando. Conforme fui me aproximando, identifiquei uma bruxa lançando feitiços contra alguma coisa… grande, que a atacava como se não houvesse amanhã. A visão foi se tornando mais clara aos poucos, até que eu entendesse o que estava acontecendo: era o meu cavalo, descendo a lenha numa bruxa que tinha sobrevivido na noite anterior! :)

Não sei se os cavalos de Skyrim são programados para ter personalidade ou não, mas eu juro que meu cavalo anterior era um verdadeiro covarde, fugindo ao primeiro sinal de perigo, mas que este aqui parte pra cima de todas as criaturas que se aproximam com uma violência extraordinária!

Elisif the Fair, a soberana de Solitude, momentos antes de ser atingida por minha súbita flechada

E aquela vez em que, sem receber qualquer ordem nesse sentido, só para entrar mais no meu personagem e apoiar o líder Ulfric, matei a rainha de uma cidade rival bem na sala do trono? Fui perseguido por toda a guarda local, cruzei os portões da cidade e mergulhei no mar para fugir. Enquanto nadava para longe, as flechas que os guardas disparavam lá do alto caíam ao meu redor como uma chuva letal.

Fui nadando para longe dali, sem saber para onde ia, até avistar uma faixa de terra. Saí do mar, e enquanto recuperava o fôlego naquela região isolada e sem árvores, achando que tinha escapado do pior, a enorme sombra de uma asa cobriu o som por uma fração de segundos. Mais um dragão para a minha coleção.

Mais um belo capítulo da minha história gamer

Pode parecer que estou fugindo do assunto com esse papo sobre Skyrim, mas não estou não. O que estou tentando fazer é ilustrar uma opinião. A gente pensa que compra um videogame para matar todo mundo num Halo, para acompanhar a história de um LA Noire ou para ser o campeão supremo de Street Fighter IV, mas a verdade é que os momentos que nós mais lembramos da nossa experiência com esses jogos são aqueles que nascem do acaso: aquela sequência brilhante de acrobacias que realizamos num golpe de sorte numa partida de Mark of the Ninja; aquele chefe que nós enfrentamos por quase uma hora no Final Fantasy e derrotamos quando só resta um mísero ponto do nosso HP; a flecha de um aliado que salva a nossa vida no último instante no Skyrim.

Adeus, querido Xbox! Não esqueça de escrever! *sniff*

Tendo vivido todas essas experiências com o meu Xbox, eu me declaro um cliente satisfeito. Agora, vendo o “preto velho” com a esperança de que seu novo dono viva tantas emoções quanto eu vivi com ele. Agradeço à Microsoft pelas muitas horas de diversão que me ofereceu, e parto agora para o mundo selvagem do Wii U… desejem-me sorte!

Mini-Reviews: Catherine (Xbox 360)

Análises com um máximo de 1.000 caracteres para você ler enquanto toma um café

Este puzzle da Atlus vendeu 500 mil cópias. Metade deve ter ido parar nas mãos de adolescentes virgens em busca de um pouco de “sacanagem animética”. Mas se você pretende comprar o jogo só por causa do “boob factor”, pense duas vezes!

Catherine é sim meio safadinho, mas é um PUZZLE safadinho. E um puzzle daqueles infernais, descabelantes. Durante o dia, o herói enche a cara no bar com os amigos e tenta “gerenciar” duas garotas: a namorada que quer casar e uma fogosa e desinibida amante. Mas toda noite, um pesadelo o leva a uma enorme torre que ele deve escalar movendo blocos. É frenético, viciante e exige o domínio de várias estratégias.

A trama sobrenatural, que mistura sexo, horror e medo de compromisso, vai ter mais impacto sobre quem é casado ou já sente a pressão. Nos intervalos entre as fases, as decisões do jogador conduzem o protagonista para os braços da namorada ou para os seios da amante. Não vi os oito finais, mas adorei o louco destino que dei ao meu personagem.