Cosmic Cast #32 – Joga Brasil 2012

Amigos do Cosmic Effect: orgulhosamente apresentamos nossa cobertura do primeiro evento dedicado somente à criação de jogos em nosso país — o Joga Brasil. À primeira vista, você pode imaginar: “ok, jogos nacionais, sim, estes jogos que a turma daqui anda produzindo para smartphones, certo?” Correto, meu caro leitor, porém a afirmação é incompleta… o Joga Brasil prova que o nosso mercado foi e é muito mais rico do que somente jogos de celular.

Criado por um entusiasta do MSX que cria jogos desde os anos 80, o José Lucio “SLotman”, a feira fez questão de resgatar toda a produção de jogos que aconteceu há décadas, e que poucas pessoas conhecem. Yes, nós temos retrogaming!

Com a presença ilustríssima do Renato Degiovani, primeiro game designer brasileiro e guru de 10 entre 10 brasileiros amantes da micro-informática dos anos 80, e B. Piropo* — uma espécie de John Dvorak da nossa terra :) — o Mario Cavalcanti fez uma sagaz cobertura do evento, que incluiu entrevistas exclusivas com Degiovani, B. Piropo e com os desenvolvedores que fizeram e fazem nossa particular história com os jogos eletrônicos. Além do Joga Brasil, no mesmo local do evento, aconteceu o Global Game Jam 2012 — o Mario também pintou por lá e entrevistou o organizador do evento no Rio de Janeiro, o Arthur Protasio “LudoBardo”.

Prepare-se para a maior viagem que você já fez pela história dos jogos eletrônicos brasileiros, e mais algumas surpresas exclusivas no…

Cosmic Cast

Episódio #32: Joga Brasil 2012

*O autor deste post é um fã particular do B. Piropo, uma vez que não perdia  (e gravava, como poderão conferir no Cosmic Cast) o programa “Informática & Negócios” aos sábados pela manhã na TV Manchete, no início dos anos 90.  O Cosmic Cast termina aos 30 minutos, apenas para os fãs da “retro-informática brasileira” deixei um bônus para relembrarmos dos preços de uma placa de vídeo de 1 MB em 1994… ;-) Ah, B. Piropo: obrigado pelos conhecimentos compartilhados pela TV, sou seu fã! — Eric Fraga “Cosmonal”
Cliquem em Gostei no YouTube!
Download do vídeo em máxima qualidade
(clique com o botão direito no link abaixo e “salve como”):

(2 GB, MPEG4/H264, 1080p 8k, Audio AAC 256 kbps)

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Primeira Edição Do Joga Brasil – Entrevista com “SLotman”

Joga Brasil mostrará no Rio os games feitos no país

Nos próximos dias 28 e 29 deste mês, acontece, no Rio de Janeiro, a primeira edição do Joga Brasil, evento dedicado aos games desenvolvidos no país. Além de conhecer as produções atuais feitas por estúdios brasileiros, os visitantes também poderão mergulhar em um túnel do tempo e conhecer clássicos criados no Brasil, como o adventure Amazônia, feito para o MSX.

O nosso retro repórter Mario Cavalcanti conversou brevemente com José Lucio Mattos da Gama, o SLotman, responsável pela empresa de desenvolvimento de jogos Icon Games e organizador do Joga Brasil. SLotman adiantou um pouco do que o público encontrará no evento. Acompanhem abaixo e anotem na agenda, pois o encontro é imperdível – e o Cosmic Effect estará por lá realizando aquela cobertura cósmica em vídeo que vocês já conhecem! ;-)

Cosmic Effect – Como surgiu a ideia de fazer um evento para divulgar a produção nacional de games e quais foram seus principais motivadores?

SLotman – Eu estou desde 2003 no mercado de jogos – com a Icon Games – e uma coisa que notei com o passar dos anos é que muita gente desconhece que sequer existe a produção de jogos no país. As empresas brasileiras na realidade atual, se querem sobreviver, têm duas saídas: trabalhar com advergames ou então fazer jogos voltados para exportação. Em certos casos, algo curioso acontece: um jogo brasileiro é distribuído por um publisher estrangeiro, e chega “de volta” no país através de portais; os brasileiros compram sem sequer se dar conta que o jogo foi desenvolvido no país. Para iniciar uma reversão nesse quadro, foi criado o Joga Brasil, onde a ideia é divulgar os jogos que foram ou são desenvolvidos no país.

Cosmic Effect – Quais as expectativas para esta primeira edição? O que o público pode esperar como atrações?

SLotman – As expectativas são grandes. Apesar de ser o primeiro evento somente com produtoras brasileiras, conseguimos reunir uma gama bem diversificada de expositores, com projetos de todos os portes. O público com certeza poderá experimentar estes jogos e até mesmo conversar com os próprios desenvolvedores por trás dessas produções; mas além disso, temos outras atrações: palestras e mesas redondas (quem é do ramo, estudantes e interessados podem assistir a palestras no evento, que falarão de diversos tópicos relacionados ao mercado e ao processo de desenvolvimento de jogos); exposição da história dos jogos brasileiros (uma exposição que mostrará jogos desenvolvidos desde os anos 80, em diversas plataformas, como Odyssey, MSX, Amiga, Master System, Mega Drive, PC etc., até produções mais atuais – mostrando a evolução do desenvolvimento de jogos no país).

Um convidado especial, o Renato Degiovani (autor do primeiro jogo 100% nacional – o Amazônia) fará uma “palestra interativa”, um bate papo informal sobre o mercado de jogos no passado e no presente. E teremos também uma parte voltada para reunião de negócios, onde empresas que não estão expondo no evento poderão se reunir, com hora marcada com as empresas expositoras. A parte de divulgação do evento é muito importante, mas tão importante quanto é a geração de novas parcerias para que as empresas possam criar produtos cada vez melhores e de maior valor agregado. A ideia geral é propiciar ao mercado de jogos, o mesmo que ocorreu com o mercado de filmes nacionais, que antes eram mal vistos por boa parte da população, mas que atualmente conseguem inclusive superar bilheteria de produções estrangeiras.

Cosmic Effect – Como você enxerga o atual cenário nacional de desenvolvimento de games?

SLotman – É um cenário promissor. O Brasil está despontando como uma nova potência no mundo, está atraindo as atenções do mercado mundial, e além disso, o povo brasileiro já possui uma cultura “gamer” enraizada. Tem-se um potencial enorme ainda não aproveitado neste país, e uma enorme quantidade de gente que simplesmente não tem acesso a jogos. Grandes empresas como a Microsoft, Sony, Nintendo, Blizzard, Ubisoft já se deram conta disso; e cada vez mais teremos a presença dessas empresas estrangeiras em solo nacional. É importante, neste momento, um evento como o Joga Brasil, para mostrar à população que existem jogos feitos no país, e que todos os envolvidos nesse mercado têm um profundo desejo de não só fazer jogos aqui, mas também de fazer jogos voltados para a realidade nacional. E isso não necessariamente quer dizer fazer um jogo que tenha o Pão de Açúcar como cenário, ou que tenha um Saci Pererê, mas sim que se use o jeito brasileiro, a cultura e a diversificação desse país para se criar algo que a pessoa ao jogar se identifique.

Cosmic Effect – Como já dito, entre as atrações estará uma exposição sobre produções nacionais antigas, que mostrará clássicos como o jogo Amazônia, para o MSX, e adaptações como Mônica e o Castelo do Dragão, para Master System. Na prática, como será essa área de exposição? Especificamente em termos de retrogames, o que mais o público poderá conhecer de perto?

SLotman – Teremos cartazes explicativos demonstrando vários jogos, em ordem cronológica, mas teremos também na exposição máquinas rodando alguns destes jogos. Além dos citados, teremos Em Busca dos Tesouros (TK-85), Zorax (MSX), Barravento (Amiga), Didi na Mina Encantada (Odyssey – esse apenas uma adaptação), Incidente em Varginha (PC – não muito retrogamer, mas antigo e importante do mesmo jeito), entre outros. É algo muito interessante, pois vendo jogo a jogo dá para entender a evolução do mercado nacional ao passar dos anos.

Cosmic Effect – Que mensagem você gostaria de passar para os visitantes ou pessoas que pensam em ingressar de alguma forma no mercado de games?

SLotman – Acho que melhor que qualquer mensagem, seja dar um conselho: venham ao Joga Brasil! Não existe oportunidade melhor para se conhecer quem já está no mercado, trocar experiências e ver de perto a realidade do desenvolvimento de jogos no país. Tanto nas palestras, como nas mesas redondas ou mesmo na área dos expositores – todo o evento é focado na realidade brasileira, coisa inédita até então.

SERVIÇO

Joga Brasil

Data: 28 e 29 de janeiro de 2012

Local: Faculdade CCAA

Horário: a partir das 10h

Endereço: Av. Marechal Rondon 1460 – Riachuelo – Rio de Janeiro, RJ

Site oficial: http://www.jogabrasil.com.br

Entrada franca!

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Adventures!

Nos anos 80, o ato de jogar videogame se aproximava muito mais da experiência de ler um livro, do que a de assistir um filme, como acontece hoje em dia. As limitações técnicas da época obrigavam a garotada a dar asas à imaginação. E quando se fala na imaginação de uma criança, sabemos que o céu é o limite!

Surgiu então uma categoria de jogos que visava instigar o intelecto do gamer, fazê-lo quebrar a cabeça ao invés do…  Quem jogou Decathlon do Atari sabe do que estou falando. Senhores, convido-os a deixar o joystick de lado e embarcarem no maravilhoso mundo dos Adventures!

Alguns podem estar se perguntando: sem joystick? Mas, como se joga isso? Elementar meu caro: com o teclado! Digitando palavras e formando frases inseridas no contexto correto, conseguimos nos livrar das maiores enrascadas que um gamer já se meteu.

Você, estando preso num calabouço de um castelo, digita o comando:

>Examine local.

O computador te diz o que há no local em que estamos no momento:

>Neste local há: chave, ossos, cama.

Você, então, digita:

>Pegue chave.

O computador responde: >Ok.

Numa situação dessas podemos formular frases mais complexas para executar uma ação:

>Abra porta chave.

O computador responde: >A porta se abriu!

E assim a coisa segue… A interface era toda via teclado mesmo.  Mas, o Adventure do Atari 2600 não era jogado com joystick? Sim, claro, mas o Atari não tinha teclado! E este estilo de jogo que estamos abordando foi concebido inicialmente para computadores. O Adventure do Atari foi uma brilhante adaptação para o console de um jogo original para mainframes da família PDP-10 chamado ADVENT (a.k.a. Colossal Cave Adventure). Daí o nome Adventure que batizou o gênero.

O amigo retrogamer deve se recordar dos Adventures da LucasArts, como o Full Throtlle e o a série Monkey Island, por exemplo. Suas interfaces não eram tão arcaicas; com o uso do mouse, era só apontar para o ícone ou verbo da ação que queríamos realizar e pronto.

Porém, o gênero Adventure é muito antigo, tendo surgido na década de 70. O detalhe é que os computadores daquela época não tinham mouse…  Estamos falando da era pré-Apple/Microsoft. Aliás, o Mouse até que existia, mas não passava de um acessório exótico, ninguém via utilidade nele. Lembro do TK-90X ter lançado um mouse no Brasil (Andrey deve lembrar disso ^_^). Todos achavam “legal” o acessório, mas para quê servia isso mesmo, além de brincar de desenhar?

Vou soltar uma polêmica aqui: o mouse dos anos 70/80 é o PSMove atual? Comprei o acessório para o meu PlayStation 3 e até hoje não sei o que fazer com ele ;-)

Made in Brazil

Foi justamente esta categoria de jogos que nos brindou, em minha humilde opinião, com a melhor leva de jogos nacionais já produzida. Como feliz proprietário de um MSX na época, gostaria de compartilhar com vocês alguns destes jogos brazucas que fizeram minha cabeça.

A Lenda da Gávea

Programado pelo guru da minha geração: Renato Degiovani. Este nome era algo como um selo de qualidade para os micreiros da época.

A aventura se baseava na lenda de que, há muito tempo, uma nave alienígena teria caído naquela região devido a uma falha técnica. Os extraterrestres foram resgatados, porém na impossibilidade de levar a nave de volta ao seu planeta, eles resolveram escondê-la no interior da pedra da Gávea para resgatá-la mais tarde. Para marcar o local, esculpiram a face do seu comandante na pedra. Notem que a pedra da Gávea realmente se assemelha a uma face!

Nossa missão era provar a existência da tal nave no interior da pedra, passando por inúmeros desafios. Fui até o final deste Adventure e obviamente não vou contar para vocês como a história acaba ;-)

Este jogo se destacava muito, sob vários aspectos. Era algo como uma super-produção nacional daquele tempo, um título AAA da nossa terra! Apresentava gráficos lindos feitos por Luis F. Morais. Tudo super caprichado e detalhado.

Havia um longo texto introduzindo a aventura, muito bem escrito. Falava algo sobre o personagem estar sendo vigiado pela CIA, teorias de conspiração e tal. Era empolgante!

O nível de detalhes estava acima dos concorrentes da época. Lembro de rir quando mandei examinar um tubo numa determinada cena e o computador responder: >Tubo de PVC marca Tigre!

Quando mandávamos exibir o nosso inventário, o computador escrevia com o português correto: >Temos uma corda, um maço de cigarros e um jornal. Preocupações que não eram comuns aos jogos da época, acreditem.

Preciso confessar uma coisa aqui: esse era o único jogo original que tinha para meu MSX :-) Havia uma trava no disquete que não permitia que eu o copiasse de jeito nenhum (espero que o Renato Degiovani não leia o Cosmic Effect :P). Terminei comprando o original, porque estava doido para jogar. Como era estudante e minha mesada não dava para nada, dividi a compra com um colega de minha cidade na época (Itabuna/BA). O disquete passava uma semana na minha casa, uma semana na dele…

Alcatraz: A Fuga impossível

Alcatraz também foi inesquecível. Os gráficos eram simplórios se comparando com o A Lenda da Gávea, pois somente mostravam o mapa do jogo. Lembro que era exibido aos poucos, de acordo com nosso avanço ao percorrer a prisão.

Clássica a cena em que nos deparamos com cães ferozes; o único jeito de passar era tocando uma música relaxante com o gravador que tínhamos achado em outro ponto do jogo. A música amaciava as feras, fazia os cachorros dormir. Só assim conseguíamos avançar :-)

Programado por Wilson F. Martins, em Basic mesmo! Ao final do jogo, eu sempre dava o comando List do MSX-Basic para ver o código fonte, hehe…

Amazônia

Mega-híper-ultra clássico da época. Arrisco-me a dizer que é o mais famoso jogo nacional de todos os tempos. Quem teve computador na década de 80 com certeza lembra dele.

Inicialmente chamado de Aventuras na Selva, foi desenvolvido em Basic no ano de 1983 pelo mestre Renato Degiovani e publicado na extinta revista Micro-Sistemas, a favorita de 10 entre 10 usuários brasileiros de micro-computadores. Sim, o código fonte do jogo foi inteiramente publicado na MS e eu não preciso dizer que esta edição (número 23) foi um grande sucesso de vendas; hoje é um artigo disputado por colecionadores. Há uma pilha de revistas Micro-Sistemas em casa, mas este exemplar não acredito que esteja por lá. Vou colocar minha máscara anti-mofo e confirmar se ainda tenho essa relíquia ;-)

Anos depois, o Aventuras nas Selva foi totalmente reformulado e re-escrito em Assembly, sendo enfim lançado para o MSX e rebatizado como Amazônia. Apesar de ser um Adventure totalmente textual, foi um grande sucesso no MSX, mesmo com o exigente público deste micro, acostumado a gráficos super bem feitos e muita ação.

Em Amazônia, nosso objetivo é escapar da selva após ter sofrido um acidente aéreo. Era um jogo difícil pacas, nunca consegui ir muito longe.

Para piorar, o jogo possuía elementos aleatórios que tornavam impossível a criação de  um walkthrough. Sabe aqueles “detonados” que existem hoje em dia? Esqueçam isso com Amazônia. O número de movimentos era limitado, se não bebesse água potável antes desse limite de movimentos, morria de sede. A onça e a cobra poderiam surgir em qualquer lugar e, no caso da onça, você só tinha poucos segundos para digitar uma solução, senão ela te pegava. Vai imaginando aí como era pra terminar esse jogo…

Outro fator que tornava complicada nossa tarefa era que o Renato Degiovani, era também o editor da Micro-Sistemas na época. Talvez por isso a revista nunca publicou a solução de Amazônia…

Conclusão

Os Adventures e os jogos de nave representavam os gêneros favoritos no MSX lá de casa. Com essas pérolas que citei há pouco, fica fácil entender o por quê, não é? Outros ótimos Adventures da época para quem se interessar: A Maldição da Vila Sinistra, Avenida Paulista, O Conde de Monte Cristo e Horror em Amityville.

Jogue Amazônia agora!

O Renato Degiovani lançou uma versão do Amazônia para Windows e totalmente gráfica! O jogo está disponível para download gratuito no site Tilt Online.

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