Terraria (PC)

Este artigo faz parte da série “Indie no Cosmic Effect”

Por Heider Carlos

Muitos jogos clamam ser sandbox hoje em dia. Assim como muitos jogos clamam ser RPGs. É moda, vende, e o marketing se aproveita bem disso.

Longe de discutir se um jogo é ou não de determinado estilo: isso gera flamewars gigantes e é, no fundo, uma grande perda de tempo. Sandbox (caixa de areia) é um termo utilizado por jogos que oferecem uma liberdade enorme aos jogadores.

Os exemplos batidos são GTA, Ultima, The Elder Scrolls e um punhado de outras franquias famosas. Há centenas de coisas a se fazer por fora da história principal, tanto que muitos jogadores gastam dezenas de horas em GTA sem terem a menor idéia do roteiro do jogo. Simplesmente entram e vão se divertir, normalmente matando pessoas e fugindo dos agentes da lei.

Mas seria a liberdade algo sólido e bom a ponto de sustentar um jogo por si só? Alguns jogos tentaram. O primeiro nome que vem a mente é Minecraft. O jogo 3D de empilhar blocos fez um sucesso enorme.

Pouco tempo depois surgiu um rival que não ganhou em vendas ou popularidade, mas fez certo barulho e tem um grupo de jogadores dedicados.

O nome é Terraria, um jogo 2D do mesmo estilo de Minecraft, ou seja, é um sandbox mais puro: não o vejo como um clone. Acontece que o tipo de jogo tem poucos representantes e, assim, títulos do mesmo estilo sempre são comparados.

O mesmo aconteceu com Diablo e os RPGs de ação para PC; ou DOtA, que acabou virando um estilo de RTS próprio (há controvérsias sobre o nome). O mundo de Terraria a ser explorado é bem mais inspirado em jogos e histórias medievais, com uma boa pegada par combate, enquanto Minecraft é voltado mais pra construção mesmo.

Ao começar Terraria, o primeiro passo é criar um personagem. Você coloca um nome, muda o visual… Nada diferente do que se está acostumado. Já o segundo é bem mais incomum: você cria um mundo.

Na verdade, você coloca um nome para o mundo e escolhe seu tamanho (pequeno, médio ou grande) e ele será gerado aleatoriamente. Então, você entra naquele mundo e sua aventura começa.

A princípio, você não tem nenhum item — nem a roupa do corpo — e somente três ferramentas: a picareta, a espada e o machado. O que fazer? Você decide. O recomendado é criar uma casa para se proteger, já que os monstros da noite são mais abundantes e perigosos.

Mas não há uma trama a seguir, um reino a salvar, um tutorial para te levar adiante… Cada um realmente faz o que quer. E, como a liberdade é tão, mas tão grande,  acredito que seja relevante para o amigo leitor que apenas acompanhe um breve relato de algumas coisas que fiz durante minhas horas em Terraria.

Depois de criar uma casa, fui andando pra direita. Muito. Não me preocupava em matar monstros, apenas saí correndo mesmo. Passei por um deserto, uma área roxa, e cheguei num oceano. Pulei e morri afogado. Ressuscitei no centro do mundo. Resolvi cavar. Peguei muita pedra. Achei um pouco de aço também e cobre também.

Voltei pra casa e fiz uma forja e uma bigorna. Consegui criar uma picareta de aço e uma armadura de cobre. Resolvi dar um tempo na mineração e fui criar um castelo.

Conforme criava cômodos, alguns NPCs foram aparecendo e começaram a morar lá. Adentrei numa área de corrupção e encontrei uma orb. Quebrei. Apareceu a mensagem “um calafrio corre pela sua espinha”.

Pouco tempo depois apareceu um chefe, o Eye of Cthulhu. Morri em menos de um minuto. Resolvi me preparar para dar uma surra no infeliz. Com a ajuda de um amigo, minerei um meteoro e fiz um Sabre de Luz. O chefe durou pouco contra minha arma Jedi.

Com mais de 30 horas de jogo, dá pra sentir que possuo um pouco mais de experiência: o relato até aqui confere apenas 3 horinhas de jogo.

Agora, uso uma armadura feita do corpo de um chefe derrotado, uma cobra gigantesca chamada Devorador de Mundos. Juntei estrelas cadentes o bastante para aprender magias.

Até receber amigos está ótimo: tenho um castelo grande o suficiente para não passar vergonha. O jogo é muito dinâmico, sempre há coisa nova para descobrir e eventos acontecendo. Tédio não se aplica neste sandbox.

Terraria tem multiplayer e — como todo o resto do jogo — é bem liberal. Você pode guerrear em um PvP “cada-um-por-si”, formar grupos e estabelecer disputar por coisas como “quem vai achar a Shadow Key na dungeon primeiro” ou jogar no modo cooperativo, tentando chegar ao inferno ou em alguma ilha flutuante.

Vale lembrar que seu mundo é o cartão de visitas, e sempre rola uma certa pompa ao apresentar o que foi feito para os amigos. Um conhecido acabou com o deserto do mundo dele para juntar areia, transformando-a em vidro.

Desta maneira, ele conseguiu criar uma fortaleza no espaço — um castelo totalmente feito de vidro que só pode ser alcançado por quem tem o item “asas” e uma “bota de propulsão”, além de ter de partir do lugar certo do mapa.

É algo impressionante, muito bonito e que gastou um bom tempo pra ser feito. Tenho certeza de que ele nem viu o tempo passar e tem um orgulho danado de sua obra.

O visual 2D é simples e prático. Não é daqueles jogos com uma pixelart trabalhada, muito detalhes e um clima super caprichado. É uma coisa mais funcional mesmo, daqueles jogos que quase dá pra ver a engine trabalhando. O mais impressionante é que o jogo consome apenas 20 megabytes no disco.

Há vários mimos para o jogador, como uma roupa baseada no Link de The Legend of Zelda, ou o chapéu do Indiana Jones, ou Sabres de Luz Tem tanta coisa que o maior desafio de Terraria é ser organizado. Quem comprou na pré-venda pôde acompanhar as várias atualizações de conteúdo gratuitas que Terraria foi recebendo mas, hoje em dia, o jogo vive um estado de finalizado.

Os efeitos sonoros e a trilha, em si, são simples também, mas passam informações vitais para o jogador. Dá um alívio ouvir a canção tema do dia às 4:00 da madrugada e saber que vai amanhecer: pois as coisas vão ficar mais fáceis. Ou um desespero ao ouvir o barulho de monstros no fundo de uma caverna, com pouco espaço para lutar ou para retornar e sem iluminação suficiente para saber o que está acontecendo.

Muita gente não vai gostar de Terraria. Ele tem um público bem específico: pessoas que gostam de criar. A ambientação e os elementos clássicos de RPGs servem para familiarizar o jogador, mas o que realmente o mantém jogando é sua própria curiosidade e inventividade.

É como se o jogo fosse uma grande caixa de brinquedos e nós fôssemos novamente crianças, brincando de criar aventuras com o que temos. Ao não fornecer amarras, Terraria nos prende como poucos, em uma aventura que começa e termina quando — e como — você quiser.

SCORE

GAMEPLAY: Tudo pode ser feito de maneira prática e rápida e a jogabilidade se adequa as várias possibilidades e estilos do jogo 5/5
GRÁFICOS: Representam bem os itens e o mundo em geral, mas não são particularmente bonitos ou marcantes 3/5
SOM: Os efeitos sonoros situam bem o jogador 4/5
TRILHA SONORA: Não é muito variada 2/5
DIFICULDADE: Vai do nivel mais básico e fácil até desafios barra-pesada que dificilmente são derrotados por um jogador sozinho 5/5

DADOS

NOME: Terraria
PLATAFORMA: Windows
DISPONÍVEL EM: Steam
DESENVOLVEDORES: Andrew “Redigit” Spinks
DISTRIBUIDORA: Valve Corporation
ANO: 2011

* * *

Todos os jogos da série “Indie no Cosmic Effect” (até este artigo)

Jamestown: Legend Of The Lost Colony (PC) por Heider Carlos
Outland (X360) por Danilo Viana
VVVVVV (PC) por Émerson Watanabe
Insanely Twisted Shadow Planet (X360) por Danilo Viana
The Binding Of Isaac (PC) por Heider Carlos
Terraria (PC) por Heider Carlos

20 Respostas

  1. Diacho, eu tô há semanas tentando resistir a jogar esse negócio e vem o Heider e estraga tudo ^_^

    Bom, pelo menos eu ainda consigo me manter longe do minecraft… ai, meu casamento…

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  2. Olá pessoal, primeiro comentário por aqui.
    Curioso que já tinha visto anúncio desse game no Steam, mas creio que pelo estilo gráfico de platformer 2D eu nunca imaginei que pudesse ser um sandbox e acabei não indo atrás de maiores informações. Pareceu mesmo interessante.
    Obrigado pelo post!

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    • Seja bem-vindo ao Cosmic Effect. Espero que tenha gostado e volte sempre ^^

      É bem difícil adivinhar sobre o que se trata Terraria sem ler nada a respeito. Eu mesmo só fui jogar por recomendação de um amigo. Recomendação é pegar leve. Ele quase apontou uma arma pra minha cabeça e me obrigou a jogar :D Pelo menos valeu a pena.

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  3. já ouvi falar de Terraria. é um joguinho bem interessante onde se pode construir fortalezas ou caçar tesouros. esse review deixou o game bem mais apresentável para mim, que conhecia pouco do jogo. eu imagino aqui como seria a batalha final contra o chefe(se é que há) desse jogo. teria que construir algo para confronta-lo?

    valeu por esse post.

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    • Eu não cheguei a enfrentar os chefes mais perigosos. Visitei um mapa de um amigo meu no modo hard e tomei uma surra danada dos bichos mais fracos. Acredito que os mais importantes chefes só podem ser derrotados por grupos de jogadores ou japoneses.

      Chefes podem ser invocados de diversas maneiras. Cada um de um jeito específico. Tem itens que fazem isso também, alguns dropados e alguns criados. Normalmente quando alguém fala sobre construir algo contra um chefe é pra facilitar a luta. O Devorador de Mundos sai do chão, por exemplo.Então uma idéia prática é construir uma plataforma acima do nível do chão pra que você veja ele saindo e não seja pego de surpresa. Sem artifícios é difícil sobreviver em Terraria. O legal é quando você fica forte o bastante pra se divertir com o chefe. Minha primeira batalha contra o Eye of Cthulhu foi um fiasco. Quando consegui derrotá-lo pela primeira vez eu fiquei no chão atirando flechas e fugindo. Mas depois de um tempo eu estava com itens bem melhores, então eu atacava ele com espadadas no ar mesmo, voando com um jetpack :D É uma sensação ótima.

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  4. Sempre tive curiosidade pra saber que tipo de jogo é Terraria, mas nunca procurei imagens, relatos ou reviews. Como sou leitor nativo dessas bandas…

    O jogo parece ser interessante, mas sempre questiono o quanto seu universo é realmente livre. Pelo seu post criei alguma expectativa. Quem sabe no futuro?

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    • Nenhum jogo é realmente livre. Há as limitações tecnológicas e tudo mais. O que cativa em Terraria é a abordagem feita. Eles tentaram fazer o jogo o mais livre possível. E isso inclui não ter história, quests nem nada que te dite pra onde ir ou o que fazer. Testar até onde vai a liberdade de Terraria é um charme a parte. E nos deixa ansiosos pelo próximo jogo do estilo a ser lançado ^^ Dê uma chance pro jogo, quem sabe você não se apaixona tb? Em épocas de promo ele custa US$2,50, mais barato que uma coca de 2 litros numa lanchonete. Vale muito a pena experimentar.

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  5. Para quem brincava de lego na infância esses jogos como Minecraft e Terraria são um prato cheio! O grande diferencial desse jogo em relação ao MInecraft é o ambiente em 2D e me parece que ele da maior ênfase nas batalhas também. Dá para ir ate no inferno, imagino a felicidade dos jogadores que descobriram esses lugares inusitados primeiro!

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    • Vai ser lançado um Lego Minecraft. Eu nem procuro informações a respeito pra fugir do vício….

      O Inferno eu acho que foi encontrado rápido. A primeira idéia de qualquer um jogando é cavar até onde conseguir. As ilhas flutuantes devem ter sido mais empolgantes, porque é bem mais difícil subir que descer e elas ficam espalhadas. Imagina descobrir que tem ilhas com templos cheios de tesouro parada esperando pra ser encontrada? Espalhar isso pela internet deve ter sido o máximo ^^

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  6. Depois de ler o artigo corri atrás de vídeos do jogo. Não o conhecia e parece ser muito divertido mesmo, parece ser um Minecraft em 2D e voltado mais para a ação.
    Esses jogos indie estão restaurando o gosto de jogar videogame. As vezes estou cansado de plots complicadíssimos e 120 horas de gameplay, as vezes quero só ligar o jogo e me divertir. Na geração atual acabo correndo atrás de Street Fighter, que até hoje me dá mais diversão por minuto jogado, mas pérolas como esta me dão cada vez mais ânimo que o cenário está mudando.

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    • Uma coisa que me enche o saco: quero me divertir, vou testar um jogo, e 15 minutos depois ainda estou vendo CG… Isso me fez pegar birra da Square-Enix.

      Meu jogo pra relaxar é Heroes of Might and Magic III. Desde que joguei primeira vez em 2000 ele é um dos primeiros programas que instalo ao formatar. Melhor que massagem :D
      Tem muita coisa indie legal surgindo mesmo, mas tem muita porcaria também. O que é bom. Acho que a grande vantagem é a variedade, tem pra todo gosto. Alguns eu jogo com a impressão de que fizeram o jogo pra mim ^^

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  7. Já li em algum lugar sobre este game e com este review fiquei ainda mais interessado. Pretendo jogar no futuro.

    Com a temática do game, me veio em mente aquela velha questão: o que é um jogo? Até que ponto uma experiência interativa, sem objetivo, narrativa ou regras claras podem ser ou não um jogo? Vide The Sims e Second Life.

    Acho que estamos caminhando pra um futuro onde um jogo não necessariamente terá o velho conceito de “jogo” (regras, condução/narrativa e objetivo). A própria experiência interativa com o objetivo de tão somente criar, expandir e interagir com um mundo próprio virtual, seguindo regras e objetivos próprios, será considerada um jogo. É a própria arte atuando sobre um ambiente digital.

    Abraços.

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    • Isso dá uma discussão interessantíssima. É só pegar jogos como os da Zynga, os social games. Eles são basicamente um jeito de interagir e se mostrar pra outras pessoas. Não tem como realmente evoluir nada sem pagar… E fazem um sucesso fenomenal. Os jogos tem abraçado mídias e formatos diferentes, agradando as mais diversas pessoas. Vamos dominar o mundo ainda ^^

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  8. Terraria parece ser bem interessante,a criatividade do player é o que importa mais.Karaca…eu tenho tanto jogo na lista de espera e agora tem mais um he he he.

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    • Faça um test drive sem compromisso. Como não há narrativa você não para no meio de nada. Pode jogar agora e só voltar daqui a dois anos que dificilmente se sentirá perdido ^^

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  9. Putz, a análise me deixou com uma tremenda vontade de jogar… Mais um para a lista de desejos do Steam.

    ;)

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    • Não deve ficar muito tempo na lista de desejos. Ele é tipo Plants vs Zombies, pelo menos uma vez a cada dois meses fica quase de graça :D

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  10. Tentei jogar um pouco de Terraria há um tempo, depois de muita insistência de um amigo. Acabei não curtindo os controles dele, definitivamente eu detesto a experiência mouse + teclado, ainda mais pra um jogo 2D onde isso não faz o menor sentido pra mim. Vc chegou a testar jogar com algum joystick pra saber se funciona bem e tudo mais?
    Muito bom review, até me empolgou a tentar o jogo de novo. Esse lance de poder criar é bem interessante, em um mundo 2D fica mais bacana ainda (nada contra mundos 3D, questão de preferência mesmo). Curti o que seu amigo fez, a fortaleza espacial com toda areia do deserto. Deve ter demorado MUITO mesmo. Legal que o jogo faz com que vc possa ter muita história pra compartilhar.
    E eu não fazia idéia de que o jogo também tem multiplayer, não me atentei a este detalhe. Deve ser interessante jogar com amigos, isso explica pq meu amigo aqui insistiu tanto para que eu jogasse… hehe!
    Abraço

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  11. 2019

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