Outland (XBLA)

Este post faz parte da série “Indie no Cosmic Effect”

por Danilo Viana

Se você acompanha blogs, usuários do Twitter, perfis do Facebook ou qualquer outro conteúdo social associado a jogos eletrônicos, com certeza já ouviu um ou outro reclamar de uma suposta estagnação do mercado – jogos estão cada vez mais do mesmo e nenhuma inovação acontece já a algum tempo. Enquanto não se pode negar que os grandes blockbusters estão todos colhendo da mesma fonte, o mesmo não pode ser dito sobre as lojas online dos consoles atuais, destinadas a jogos mais simples – nestas lojas pipocam jogos criativos e tais lojas acabam se tornando o laboratório das empresas, locais onde é possível inovar sem o enorme comprometimento e investimento necessário para desenvolver os grandes lançamentos.

A mais nova feliz experiência da Ubisoft é Outland, um jogo definido perfeitamente como “Ikaruga de plataforma”. Para quem não conhece Ikaruga, trata-se de um shoot-em-up vertical onde sua nave possui dois “escudos” – um é branco (azul) e o outro preto (vermelho escuro) – e cada escudo é capaz apenas de defender sua nave de tiros da mesma cor, sendo atingido normalmente por tiros da cor oposta. Os inimigos também possuem estas cores e atirar neles com a cor oposta causa mais dano que o normal. O truque do jogo é trocar de escudo na hora certa, evitando ser atingido e tentando causar o máximo de dano nos inimigos trocando para a cor oposta.

Bom, este post é sobre Outland, então porque perder um parágrafo explicando como funciona Ikaruga? Se ler a explicação novamente, substituindo “shoot-em-up vertical” por “plataforma” e “Ikaruga” por “Outland” deixando todo o restante como está, você entendeu como funciona Outland.

A história do jogo é simples, beirando a não existência. Você é um “herói” e o inimigo são as irmãs da criação. As irmãs são a deusa da luz e a deusa das sombras; elas criaram o mundo, mas foram aprisionadas não se sabe por quem ou por quê,  e querem se vingar destruindo o mundo que elas próprias criaram. Sua missão como herói é impedir, fim. O enredo, de tão simples que é, novamente lembra os shot-em-ups. Embora seja possível apreciar sua simplicidade, os amantes de longos romances vão ficar na vontade aqui.

É na jogabilidade onde está toda a graça. Assim como sua contra-parte shooter vertical, em Outland você pode trocar de escudo e se defender de projéteis (e apenas projéteis) inimigos da mesma cor. Devido a esta mecânica, o jogo atira muito mais projéteis em você do que o padrão para um jogo de plataforma ,e com isso, por vezes você estará apertando o botão de trocar de escudo mais que o próprio botão de pulo. Some o fato de que existem plataformas e armadilhas que ativam e desativam baseado na cor de seu escudo e temos aí um prato cheio de jogabilidade para algumas horas.

A estrutura das fases de Outland segue a escola Metroid, com um grande mapa que pode ser explorado a vontade. Há teleportadores liberados mais a frente no jogo e a todo momento é possível consultar o mapa da área em que se encontra. Taí uma semelhança específica com Super Metroid, onde não é possível ver o mapa do jogo todo de vez, apenas da área atual; seria bem interessante se Outland funcionasse como Symphony of the Night neste aspecto, onde o mapa inteiro está disponível de vez.

Outland não é sem defeitos – para começar o jogo é estranhamente fácil apesar do bullet hell. Em Ikaruga as vidas são poucas e a nave é destruída com apenas um ataque, mas em Outland a energia é abundante, os checkpoints bem posicionados e as vidas ifinitas. Ser perfeito na troca do escudo não é tão importante e, às vezes, é mais fácil ser atingido e correr que se dar ao trabalho de trocar de escudo com perfeição. A exceção é nos chefes, que são divertidos e desafiantes, exigindo boa estratégia para serem vencidos.

Inclusive no departamento de chefes, Outland outra vez pede emprestado aos shooters um pouco de inspiração. Eles são enormes – alguns tendo várias “telas” de comprimento – e todos requerem uma estratégia diferente do simples acerte até morrer. A troca de escudos aqui é fundamental pois, diferente das fases normais, os chefes não têm checkpoints no meio da batalha. A punição por morrer é recomeçar todo o combate, como em todo bom shmup.

Outro “defeito” do jogo é sua curtísima duração, podendo ser vencido em cerca de 6 horas. Particularmente gosto da curta duração, pois estimula um replay rápido e descompromissado, mas é estranho que o jogo tenha sido estruturado como um “Metroidvania”. Há itens escondidos que dão mais energia e ataques mais fortes, mas há pouco incentivo à exploração. Se você seguir cada fase linearmente, dando apenas uma pequena explorada na tela em que esteja atualmente, é bem capaz de você chegar ao fim poderoso o suficiente para enfrentar o chefe final. Infelizmente aqui a oportunidade foi perdida – o jogo ficaria muito mais interessante se houvesse mais incentivo a exploração, com direito a bullet hells incríveis protegendo power-ups escondidos.

Outland pode ser um jogo de plataforma 2D no melhor estilo retrogamer, mas no departamento gráfico ele é um jogo de “ultíssima” geração. O cenário é todo estilizado e o contraste entre as criaturas da escuridão e da luz cria uma harmonia quase que coreografada. O bullet hell também forma danças na tela no melhor estilo Ikaruga, chegando ao clímax nos momentos finais do jogo, onde sua cabeça vai dar uma volta tentando esquivar de todos os tiros.

No departamento sonoro o jogo é apenas mediano – o ponto alto é o som dos tiros, que ajuda a criar o efeito de coreografia. A música é apenas ambiente e os inimigos mal emitem sons, a não ser quando são atacados. No geral, o som do jogo não é ruim, mas não impressiona.

Outland é mais um membro do clube de jogos criativos, que conseguem misturar uma jogabilidade simples com um elemento novo obter destaque por isso. É uma pena que nos consoles estes jogos estão limitados as modalidades “arcade”, mas é ótimo que exista uma forma de desenvolvedoras arriscarem novas idéias sem precisarem falir. Nós, jogadores, só temos a lucrar com isso.

SCORE

GAMEPLAY: A estrela do jogo, quem diria que Ikaruga funcionaria como um platformer 5/5
GRÁFICOS:
Para um jogo 2D os gráficos são impressionantes e, ainda assim, simples 5/5
SOM:
Apenas o necessário 3/5
TRILHA SONORA:
Novamente apenas o necessário, dificilmente vai figurar no Video Games Live 3/5
DIFICULDADE:
Uma dificuldade maior caía bem, bullet hell não combina com vidas infinitas e checkpoints 3/5

DADOS

NOME: Outland
PLATAFORMA: Xbox 360, PS3
DISPONÍVEL EM: Xbox Live Arcade, PSN
DESENVOLVEDORA: Housrmarque
DISTRIBUIDORA: Ubisoft
ANO: 2011

* * *

Todos os jogos da série “Indie no Cosmic Effect” (até este artigo)

Jamestown: Legend Of The Lost Colony (PC) por Heider Carlos
Outland (XBLA) por Danilo Viana
VVVVVV (PC) por Émerson Watanabe

24 Respostas

  1. Eu tenho bastante vontade de comprar um PS3 ou um 360, e o problema nem é grana, e sim tempo pra jogar. E cada vez mais chego a conclusão que vou jogar mais jogos da Live e da PSN do que os de disco. Que jogo lindo! O chefe me lembrou bastante os Colossi de Shadow of the Colossus, um jogaço. Estava vendo uns videos e fiquei impressionado com o tanto que o jogo é fluído. É bonito de assistir. De jogar então deve ser perfeito.

    Bela review, me deixou com muita vontade de jogar. É o tipo de jogo que precisa de um bocado de poder de processamento pra ser feito, e é bom vê-lo surgir nesta geração. Provavelmente não tem multiplayer, um coop seria divino.

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    • Este é um dos indicativos que daqui a duas ou três gerações a distribuição de jogos será toda digital. Eu mesmo não parei para contar mas acho que tenho mais jogos online que físicos e até mesmo meu jogo “físico” mais recente, o Assassin’s Creed 2, eu peguei via Games On Demand que é online.

      Quanto ao co-op, que pecado o meu, totalmente esqueci de mencionar. Ele tem co-op sim, inclusive há desafios feitos para co-op, que não podem ser feitos jogando sozinho. Eric, espere uma edição minha no post porque essa gafe foi péssima.

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    • Tive a mesma impressão que você quando vi a foto acima,o chefe parece muito com o do Shadow of the Colossus!

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  2. Poxa vida, parece ser bem interessante, pena que não tem para PC. Gostei da premissa de mesclar shmup com jogos de plataforma, e, pelo que você falou, o jogo não adota a dificuldade frustrante do gênero de tiro. Decisão sensata!

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  3. Um mix de dois gêneros que me amarro (shmup e plataforma). Curti os movimentos do heroi e dos inimigos. Espadas violentas tipo a Blade of Artemis, do God of War, também são lindas. E escalar chefes de fase pra bater neles é muito bom. O lance de um cara que anda com um escudo num “labirinto plataformal” me lembrou o Maze of Galious do MSX. hehe

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  4. Hummmm que interessante! Tem pra PSN!

    Fiquei com vontade de experimentar esse Danilo! Tá ai um jogo que eu nunca teria conhecido se vc nao tivesse escrito esse review!

    Otimo review como sempre!

    abs

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    • Fala Euler, é interessante mesmo rapaz, e barato. Pelo menos na XBLA ele não custa os típicos 1200 pontos (15 dolares), ao invés disso custa 800 (10 dólares). Acho que eles perceberam que o jogo é curto e por isso não vale o custo total, apesar de que provavelmente pegaria ele mesmo custando 15 dolares.

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  5. Outland parece ser bem artístico.É bonito ver as fases cheias de níveis com profundidades e texturas diversas, com todo aquele efeito luz e sombra contrastando com lasers e tiros azuis e vermelhos.Se a jogabilidade é boa como você diz Danilo,acho que pelo conjunto da obra vale a pena experimentar Outland.
    Danilo,você disse que se houvesse mais incentivo a exploração o jogo ficaria mais interessante… mas será que essa “fusão” do genero plataforma com bullet hell dá espaço à exploração sem comprometer a jogabilidade?
    Se Outland abstraísse a “mecânica Ikaruga” mantendo a arte visual ,talvez,poderia ficar melhor, e com uma exploração mais elaborada.
    Ótimo texto,principalmente pelo…“Metroidvania” ha ha ha ha.

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    • De fato Dactar, a ação do jogo é bem rápida, um pouco diferente de Metroid e Symphony of the Night, talvez não coubesse esse elemento de exploração mesmo.

      O estranho é que ele tenta estar lá. Há teleporte para facilitar a navegação e a todo momento você encontra locais onde não é possível passar, lhe fazendo passar direto até encontrar o item que precisa pra voltar, mas diferente de Metroid e cia. não há nenhum item obrigatório escondido nesses locais e mesmo os itens opcionais existentes as vezes são meras moedas, no máximo uma energia extra que não é necessária.

      Acho que deviam ter se decidido, se era para a exploração ser fraca então que removessem este elemento e reforçassem o bullet hell e a jogabilidade. Mas aí sou só eu reclamando, este é só um pequeno defeito em um excelente jogo.

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      • Tem razão Dancovich é um pequeno defeito diante da qualidade geral do game,acho que nós retrogamers temos um referencial de qualidade acima da média ,por isso até bons jogos não escapam da crítica e da análise honesta e implacável de todos nós.

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  6. Eu não tenho nem 360 nem PS3, logo vou ter que ficar ainda algum tempo sem jogar esse game, mas pelo que vi em vídeos parece ser legal. Esse lance de dois escudos parece interessante!

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  7. Confesso que estou pra escrever sobre Outland no meu blog, assim que eu terminá-lo.

    Excelente review para um excelente jogo. Outland é um dos melhores games que 10 dólares podem comprar – direto, sem muita frescura, não é desnecessariamente longo e o lance de usar a jogabilidade de Ikaruga mesclada ao Metroidvania foi algo genial!

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  13. Ótimo review, Dancovich!

    Já faz um tempinho que comprei esse jogo num Deal Of The Week por 400 MS Points, quando o testei rapidamente, gostei muito dos gráficos:

    Mas depois que comecei a jogar pra valer, adorei o jogo! Acabei de passar o primeiro boss (mostrado na foto, o que parece do jogo Shadow of the Colossus) e fiquei maravilhado com o gameplay no combate. Me lembrei a sensação que tive jogando Bionic Commando Rearmed.

    Queria ver algum review em português para ver se o jogo era tudo isso mesmo, ou se era eu que estava muito empolgado, mas realmente vemos pelo ótimo review do Danilo que o jogo é um must play. Muito gostoso de jogar. Quero indicar para todos os meus amigos e vou pedir para eles lerem esse review. E galera, que não viu o jogo ainda, se nas screenshots os gráficos são lindos, rodando ao vivo é pelo menos 5 vezes mais bonito! Sério mesmo.

    Um grande abraço!

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    • Opa, valeu pelos elogios ao review Frank. Fazemos o que podemos, hehehe.

      Mas sério, Outland não deu trabalho nenhum para fazer o review. De fato se me lembro bem tinha terminado ele e estava no trabalho lembrando do quanto me diverti, na hora do almoço comecei a escrever e só parei com o review pronto, depois foi adicionar imagens, corrigir algumas coisas e postar.

      Recentemente adquiri Torchlight II, Double Dragon Neon e Hard Corps Uprising, ao fazer isso constatei como essas lojas “arcade” dos PCs e consoles estão cada vez mais resgatando os games de antes, onde o gameplay era o fator mais importante e criatividade na ambientação e gráficos era mais importante que shaders, efeitos de luz e DirectX11.

      Grande abraço.

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      • Realmene, a XBLA/PSN estão muito boas com esses arcades! Esses jogos de hoje exigem muita leitura (não me incomoda ler, mas cansa às vezes… Mass Effect e seu Codex que o digam) e um certo tempo para aprender a jogabilidade e comandos. Nesses arcades isso é bem diferente, você consegue começar a jogar e se divertir rapidamente, deixando a mente mais leve e solta para diversão descompromissada. Gosto de jogos complexos, mas tem hora que precisamos realmente relaxar um pouco.

        Esse Hard Corps Uprising é muito legal! Tenho ele aqui, só o achei um pouco difícil, mas no modo em que é possível comprar power ups consigo me sair melhor, só achei sacanagem não vir com todos os personagens dentro do jogo.

        Apesar de eu visitar mais os vídeos, vez ou outra estou sempre lendo um review ou post, então pode ser que eu demore, mas eu apareço a qualquer momento para comentar! ;-)

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