Um Encontro Inusitado

Por Euler Vicente.

Atualização importante! (12/set/2013)

Inacreditavelmente, há poucos dias, encontrei um homem muito parecido com o rapaz descrito no artigo a seguir. Ele teria supostamente participado, como programador, do desenvolvimento do jogo Zorax. Alto, magro, cabelo curto e castanho e de óculos.

– Amigo, com licença. Você estudou na Faculdade Ruy Barbosa?
– Sim.
– Fez Processamento de Dados?
– Sim. Você também? Em que época?
– Entre 1994 e 1997. Acho que fomos colegas de turma!

Seu sotaque carioca era pronunciado: só pode ser a mesma pessoa! Incrível coincidência.

Decidi entrar no assunto do artigo, pois gostaria de aproveitar a coincidência e esclarecer alguns possíveis desencontros de informação que o leitor do Cosmic Effect, o amigo Alberto Meyer, levantou nos comentários. Será mesmo que o programador de Zorax que o texto menciona nunca esteve na Bahia?

Continuo o papo com o misterioso programador.

– Um colega de classe nosso, o Andrey, nos apresentou. Você tem lembrança deste dia?
– Não me recordo…

Pudera: isso foi há 15 anos. Continuei:

– O Andrey, naquele dia, disse para mim que você era um excelente programador em Assembly e que havia programado um jogo para o MSX que ficou conhecido: o Zorax.

Ele confirma positivamente com a cabeça! E verbaliza:

Sim, participei como programador. Na época trabalhava no Rio de Janeiro numa empresa chamada Nemesis Informática.
– Como é seu nome mesmo?
– Anderson.

A conversa parou por ai. Mas, apesar disso, a informação que consta nos créditos presentes na tela de abertura de Zorax não bate com a que ele me transmitiu. A empresa é outra: não a “Nemesis Informática” e sim a “Discovery” e o nome creditado do programador é Leonardo, não Anderson.

De qualquer forma, ele não parecia estar distorcendo a informação. A impressão foi de um homem sério, com seus 40 e poucos anos de idade — não haveria motivos. Fico imaginando se o projeto de Zorax passou por empresas diferentes na época de sua produção; ou se a participação do Anderson teria sido minoritária e, por isso, seu nome não teria sido incluído nos créditos da já apertada tela de abertura…

Apenas aproveito este acontecido para esclarecer que o teor deste artigo, publicado em janeiro de 2011,  é 100% real e honesto, de acordo com o padrão de qualidade do Cosmic Effect. Se algum leitor tiver alguma informação a acrescentar, por favor sinta-se à vontade!


Artigo original

Neste post não tratarei de nenhum review, apenas desejo compartilhar com vocês uma passagem curiosa da minha vida gamer.

Numa noite rotineira, enquanto aguardava a aula começar na minha faculdade de processamento de dados (Faculdade Ruy Barbosa em Salvador/Ba), batia um papo com o Andrey*, um colega de classe.

– Euler, você que teve MSX, lembra da Discovery Informática?
– Sim, lembro. Era uma empresa do Rio, né?
– Pois lembra de um jogo chamado Zorax?
– Ah, lembro também. Um jogo de nave nacional, não é? Ele era anuncia nas Micro Sistemas e MSX Micro da época. Dizia algo sobre ser “o jogo de ação mais sensacional criado no Brasil” (aos risos). Mas… nunca joguei ele não!

Então o Andrey olha para o fundo da sala e diz:

– Vê aquele cara alto, de óculos, ali no fundo da sala?
– Sim. O carioca?
– Ele mesmo. Você está olhando para o autor de Zorax!!! (nós dois ao risos)
– Tá de sacanagem comigo?
– Não estou. Vamos lá conversar com o cara.

Isso deve ter acontecido há uns 15 anos, ainda no começo do curso; foi um papo interessantíssimo, apesar de curto. Ele citou detalhes técnicos de como fez para programar o Zorax. Usaram um software para descompilar* o código de alguns jogos da KONAMI, para aprender os macetes. Lembro dele ter dito que haviam descoberto que a KONAMI trabalhava com um modo de tela intermediário entre o Screen 2 eo Screen 3 do MSX. Nem imaginava que isso era possível.

Achei graça mesmo foi dele comentando sobre como as coisas mudam na Informática:

– Naquela época eu era o Rei. Matava a pau em Assembly. Sabia como poucos. Hoje eu sou nada! Agora o que preciso aprender é Clipper, Visual Basic! (nós três aos risos).

Que situação inusitada, do nada, dou de cara com um bam-bam-bam do MSX do Brasil, numa sala de aula aqui em Salvador. Esse dia foi diferente; daqueles  que a gente realmente nunca esquece.

*Não é o Andrey daqui do Cosmic Effect :-)
*Descompilar é o ato de traduzir do código de máquina (1s e 0s), incompreensível para nós humanos, para linguagens de mais alto nível, como o Assembly (também incompreensível para muitos humanos como eu, hehehe).

* * *

36 Respostas

  1. Achei uma putaria o que fizeram com esse jogo na matéria da OLD Gamer 2. Os caras metendo pau num jogo de ação criado DO ZERO em 1990 e ficam pagando pau pra conversão fuleira feita pra Windows em DOIS MIL E CINCO do Knightmare, vê se pode.

    Incrível como a turma do MSX é preconceituosa contra quem não é da “panelinha”…

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    • Eu não vi essa matéria não. O que ela dizia? Tem algum link na internet com a matéria? Fiquei curioso!

      Ah… eu tava tentando lembrar o nome do cara e agora que vi a tela de abertura no post relembrei: Leonardo rsrs Será que algum dia ele vai ver esse post?

      Sim Jeferson…. não li a matéria, mas não acredito que haja algum preconceito quanto a produção nacional de jogos MSX não. Veja que os Adventures de Renato Degiovani são aclamados até hoje. Não tem quem não goste de Amazônia ou a Lenda da Gávea.

      Talvez a critica tenha sido mesmo fundamentada na qualidade do jogo em si, independentemente de ter sido produzido aqui ou não, independente das dificuldades que todos nós conhecemos que é fazer um jogo aqui.

      Em tempo… esse post não é um review, nem uma critica ao jogo. É só uma passagem curiosa da minha vida que quis compartilhar com todos.

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      • Puxando aqui da Old2… na seção “Cinco jogaços e uma bomba”:

        “Zorax (Discovery Informática, 1990): esta é a bomba. A propaganda dizia: ‘o mais sensacional jogo de ação totalmente criado no Brasil’. Pfff!!! Gráficos ruins, inimigos burros se movendo em padrões altamente previsíveis, fator diversão zero, música… que música? Só tocava na tela de abertura! Em resumo, é tão ruim que virou cult entre os MSXzeiros”

        Eu nunca joguei, então não sei dizer se procede. Mas gostei de conhecer a história que o Euler contou, deve ser um desses “causos” que passam em branco pela história dos games, ainda bem que ele documentou aqui no Cosmic Effect.

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  2. Putz, essa me fez ficar com inveja de você, Euler Vicente. Eu confesso que nunca joguei Zorax, mas a turma que eu conheço fala do game com tanto carinho que faz qualquer um sentir vontade de experimentá-lo! :-)

    Encontro inesquecível e devidamente registrado com toda a certeza!

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  3. Caramba, grandioso MSX. Eu tinha o Zorax no meio de um dos disquetes da Orionsoft que vinha com 12 jogos cada, mas nunca dei atenção.
    Não querendo desmerecer o trampo dos caras, mas eu tinha entre 12 e 14 anos e aquele jogo me parecia muito chato.
    Eu adorava jogar Magical Tree (indiozinho que subia a árvore), Astro Marine Corps e Knightmare.

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    • Orionsoft? hehe

      Também lembro! Tinha umas fitas cassete deles em casa!

      Esses 3 jogos citados são inesquecíveis mesmo! Principalmente Knight Mare hehe

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    • Magical Tree me lembrou (o nome) o Magical Kid Wiz, que eu adorava, e claro Knightmare também, dentre outros – tenho marcantes lembranças do MSX e nem preciso lembrar que são todas providas de jogatinas na casa do old friend Euler aí :D

      Engraçado que sempre antes de ir embora da casa dele, eu pedia pra ele colocar aquele cartucho demonstração que vinha no Expert dele, ele não suportava mais ver aquilo mas eu adorava :)

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      • Não conhecia esse Magical Kid Wiz. Fui atrás de vídeos agora. Tem alguma relação com Black Mages dos Final Fantasy ou só rolou um rip-off básico?

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      • Eu lembro disso! Já sabia de cor a receita da sopa de ervilhas que tinha no “por dentro do Expert” de tanto rodar aquele cartucho hehe

        Quando o programa terminava de rodar, dava um List para ver o código em Basic, apesar de não entender quase nada hehe

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    • Magical Tree foi obsessão na minha casa até eu conseguir gerar. Os dois mil metros pareciam um sonho impossível!

      … e isso me deu uma ótima ideia para um post, thanks!

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      • Aguardo ansioso. Aliás vou tomar vergonha na cara e instalar um emulador de MSX (que eu e meus vizinhos chamavamos carinhosamente de “Mixixis”) só pra tentar alcançar o topo da árvore!
        Aquilo era mais viciante que Angry Birds

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  4. Inveja hein… Pena que foi um papo corriqueiro. Mas acho que se o cara desse corda pra você, ele nunca mais ia sair de lá :)

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  5. Putz, essa foi inusitada. Lá fora a produção de jogos é bem firmada então bater com um desenvolvedor não deve ser lá grande coisa, o equivalente a bater com um analista de sistemas aqui. Mas encontrar um desenvolvedor de um jogo famoso (ou infame) do MSX é evento pra se lembrar mesmo.

    Vou ter que experimentar esse jogo nem que seja pra descobrir que é uma porcaria, deu curiosidade agora.

    Homebrew emulador de MSX para Wii, ativar!

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  6. MVI A, 5
    JMP 5

    rs, é mais ou menos assim, só sei a teoria mesmo. rs

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    • Afff não me faça lembrar desses registradores do Assembly Edson! rsrsr

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    • Você ainda sabe a teoria, já eu sei só isso decorado:

      mov ax, 5
      int 10
      p
      p

      Define o modo de vídeo texto, nos IBMs. Funciona até hoje “no debug”, decorei isso a décadas, era suficiente pra tirar uma ondinha quando era adolescente, entre descompactar um jogo de DOS e outro no ARJ na casa do coleguinha ehehehehehhe – que beleza! :)

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  7. O cara devia ser muito fera não? Criar um jogo em Assembly deve ser uma coisa impossível para os desenvolvedores hoje em dia. Eu já pensei em estudar para desenvolver jogos, mas não prossegui por falta de incentivo financeiro que temos no Brasil, tomará que essa realidade mude logo!
    Parabéns pelo post!

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  8. […] This post was mentioned on Twitter by Eric João F. Fraga, Jorge Lucas and Old School Gamer ✔, Eric João F. Fraga. Eric João F. Fraga said: Alguém aí conhece o programador de Zorax, "clássico" jogo brasileiro do MSX? https://cosmiceffect.com.br/2011/01/20/um-encontro-inusitado/ :) […]

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  9. faltou falar o nome do cara heheh

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  10. Incrível!

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  11. Cara, muito legal esse post! Só um ambiente de faculdade pode gerar esse tipo de encontro mesmo.

    Isso me faz lembrar do dia em que alguns colegas da minha sala (Ciências da Computação em São Carlos-SP) começaram a falar de emuladores, jogos de computador, roms, traduções, hacks e de repente começaram a falar da BR Games e do Jackal (criador do site). Fiquei um tempo quieto, ouvindo, e depois falei que o tal era meu irmão. Muito divertido! :P

    Caramba, Assembly, apesar de ser praticamente linguagem de máquina e ser interessante, é bem hardcore!

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  12. Leo começou a carreira dele aqui em Nova Friburgo. Ele e o Tote (Aristóteles Vieira), faziam coisas de doido no MSX e no Amiga. Nerds MOR, puxavam fios mesmo, do meio das placas, e tinham bíblias de assembly e C, q sabiam de cor. Gamemaníacos viciadíssimos, q faziam jogos personalizados a pedidos da nossa galera. E qdo não curtíamos algum aspecto de algum jogo “gringo”, eles desassemblavam, modificavam e pronto…meses de jogatinas doidas, um batendo o recorde do outro. E divulgando nos BBS, qdo internet não “existia”. Bons tempos… acho q o Leo tá trabalhando na Nokia… sei lá… faz uns 20 anos q não vejo ele. Saudades dum kra 100%.

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    • Legal! Vc conhecia o cara tb!

      Fiquei curioso em saber seu paradeiro.Tenho a impressão que ele não terminou a faculdade que citei no post, pois tenho poucas recordações dele na faculdade. Pelo menos não me recordo dele na minha turma de formatura.

      Tomara que algum dia ele veja esse post e nos conte um pouco de sua experiência daquela época. Deve ter muita coisa pra contar rsrs

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      • Poizé, o Leo tinha uma pequena loja de informática numa galeria da RuaPortugal (isso aos 13 anos mais ou menos, com um sócio q naum lembro o nome), ele fazia controles arcade de madeira, vendia revistas MicroSistemas e Input, e muito hardware pra msx entre outros. E desenvolvia sistemas, claro. Foi com eles q comprei a minha primeira interface ddx pro meu Expert, pq não aguentava mais regular azimute pra fitas k7 (jogos q eu sempre comprava deles, pois pra mim, amigo paga, e melhor q cliente.) Lembro dele o o Tote juntos criando um CAD (sério, um CAD) pra MSX! 3D!

        Euler, acho q o Leo tem facebook ou twitter… de qualquer forma, essa turma, com a revolução Lowuser (q só sabe usar computador se tiver ícones,), sofreu um bocado pra sobreviver e acabou se separando, espalhando pelo mundão. Ou contaminado, como eu, q desistiu de programar em assembly, c++, etc… pra ser editor de vídeo. rs.

        Vou dar uma procurada, quem sabe acho mais coisas pra postar aqui pra vcs?

        Em tempo, muito prazer a todos. Desculpe a falta de educação. :P

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  13. Interesse o post sobre o ZORAX, que está no seu site. Achei no Google. Mas, acredito, seja fake, porque o Leonardo não usa óculos, muito menos estudou em Salvador. Lembro que, a época, os unicos jogos eram adventures de texto (jogos criados no Brasil). Sei disso porque era dono da Discovery. Abraços

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    • Olá amigo!

      Bom, essa história não é uma invenção minha, tenha certeza. Eu não lembrava do nome dele, mas a descrição física vc pode me confirmar: bem alto, magro, cabelo castanho curto e sim, lembro dele usando óculos.

      Lembro claramente desse dia, apesar de ter muito tempo. Se vc ainda tem contato com ele, confirme se ele estudou na FRB em Salvador.

      abraços

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      • Galera fan do MSX!

        Como meu amigo Alberto Meyer comentou, não uso óculos e não sou esta pessoa que nunca estive na Bahia. Foi o programador deste jogo na epoca que morava em Nova Friburgo -RJ.
        Aqueles que quiserem manter contato e matar saudade dos tempos de MSX podem me escrever lbeltrao[at}ovi.com ou me procurar no Linkedin.

        Abs,

        Leonardo Beltrao

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        • Ahh… legal Leonardo! Ficou tudo esclarecido agora. A confusão se formou porque eu não lembrava do nome do programador (Anderson) e pensei que tinha conversado com você na época, porcausa do nome nos créditos. rs

          Valeu!

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  14. Fala Galera… O Leo esta Vivo?!?!?! rsrsrsrsrsr… Alberto tambem?!?!?! Caraca… quanto tempo. Gostei da matéria… bons tempos esse…. =)

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