Road Fighter (MSX)

Por Euler Vicente

Há muitos anos, antes do Blu-Ray, do DVD e até mesmo do CD, nós, gamers, usávamos – além de cartuchos –  fitas K-7 para carregar nossos jogos. Sim, vocês leram direito. Fitas K-7!!! Sabe aquela BASF 60 que seu tio tem guardada no fundo do baú com as músicas do Legião Urbana? Era nossa mídia naquela época. Principalmente para os menos afortunados que, como eu, não tinham dinheiro para ter um drive de disquete 5”1/4. Disquete era equivalente ao Blu-Ray de hoje: muito caro e poucos tinham acesso. Ainda mais com o agravante da maldita lei da reserva de mercado do início dos anos 80. Novidades em tecnologia levavam anos para chegar ao Brasil. A década da banda de Renato Russo teve anos sombrios para quem curtia tecnologia.

Mas, como diabos um jogo poderia ser gravado numa fita K-7 e lido depois pelo computador? Mais ou menos assim: o código original do software era transformado em código de máquina (binário), que se traduzia numa freqüência sonora com diversas nuances; esta era lida e interpretada pelo compilador. Ao reproduzir a “música” (um ruído agudo, chaaaaato…), as variações dessa freqüência sonora eram transformadas em bits (0s e 1s), até que o código de todo o jogo fosse carregado na memória do computador. Legal, né?

O problema deste método de armazenagem: a leitura dos arquivos era leeeeenta e aconteceia seqüencialmente – ou seja, se quisesse rodar um jogo que estivesse gravado no meio da fita, era necessário posicioná-la no local exato do início do código do game para, somente assim, poder executar a instrução de carregamento. Igual ao VHS – quando queríamos assistir a um trecho específico de um filme, tínhamos de avançar a fita até encontrar o local desejado.

O jogo tratado neste review estava gravado no meio de uma BASF 90 cheia de jogos :-) Para encontrar o local correto com os bits do game em questão, era necessário escutar a fita até achar algum trecho mudo: o silêncio era o intervalo entre os arquivos. Parava a fita, digitava a instrução BLOAD do MSX, pressionava play no Data Coder (o gravador do Expert da Gradiente) e aguardava a leitura do cabeçalho. Fazia isso até o micro mostrar: “found: RoadFighter.bin”! Então era “só esperar” uns 2 minutos que o jogo carregava. No total, eram necessários 15 minutos até a sessão começar. Algo impensável hoje em dia. Quem tem paciência de esperar 15 minutos antes de começar a jogar? Tem gente reclamando de telas de carregamento com 10 segundos!

Pois aquele “tempo perdido” valia muito à pena. Que joguinho sensacional era o Road Fighter!!! A premissa é simples: dirija seu carro esportivo até o fim das 6 etapas. O objetivo é finalizar cada uma delas antes de o combustível acabar. A colocação não importa. Existiam carros, caminhões, óleo na pista e outros obstáculos que atrapalhavam nossa corrida. Cada vez que colidimos, somos penalizados com perda de combustível. Portanto, quanto mais batemos, menores são as chances de chegar ao final da etapa. E, em algumas delas, ao colidir uma única vez: bau bau! É possível recuperar algum combustível pegando o coração que surge aleatoriamente na pista. Esse negócio de “pegar coraçãozinho para recuperar energia” é a cara da Konami dos anos 80, não acham?

Quanto a jogabilidade, mais simples que isso impossível. Road Fighter, assim como Enduro e Pole Position do Atari 2600, é o tipo de jogo de corrida em que o cenário “vai descendo” e o carro precisa se desviar dos obstáculos lateralmente. Esquerda, direita e acelere! A Konami acrescentou alguns detalhes simples à jogabilidade que tornou o jogo mais interessante: quando batemos num outro carro, o nosso não explode logo de cara: ele derrapa por alguns instantes, para só depois começar a rodopiar. Quando o carro está rodopiando, não temos mais nenhuma possibilidade de controlá-lo, o que invariavelmente leva a uma explosão por batida no limite da pista. Maaaaaaas, naquela fração de segundo enquanto o carro está derrapando, se o jogador tiver o reflexo de direcionar o carro para o mesmo lado em que ele estiver derrapando, voltamos a ter controle sobre o carro. Aprender este macete de controlar o carro numa derrapagem é muito útil para chegar ao fim das etapas.

No aspecto técnico o jogo é um show. Os gráficos são lindos demais. Os detalhes dos cenários impressionavam na época. Podemos ver quadras de tênis, placas publicitárias, jardins e etc. Acho linda, em especial, a segunda etapa, que se passa na praia. Bonito demais para um jogo de 1985!

Os efeitos sonoros também são muito competentes. O som do motor do carro, se tornando mais agudo enquanto o carro aumenta os giros do motor, passa uma sensação de aumento de velocidade. Os sons de derrapagem e batidas também são bem feitos.

Road Fighter é um jogo inesquecível para mim. Lembro como hoje dos queixos caídos dos meus amigos quando iam em minha casa para umas partidinhas de MSX. O pessoal da época estava acostumado com Enduro do Atari e Interlagos do Odyssey, e a diferença era abissal. Um jogo tão bom que recebeu uma continuação ainda melhor: F1 Spirit. Este também será revisitado em breve.

Obs. 1: Road Fighter, como muitos jogos da época para o MSX, recebeu um port muito bem feito para o Nintendo.

Obs. 2: Existe um remake feito pela Brain Games que ficou bem legal.

SCORE

GAMEPLAY: Jogo de carro estilo arcade como manda o figurino. Controles fáceis e divertido 5/5
GRÁFICOS: O ponto forte do jogo. Acho bem feito até hoje 5/5
SOM: Efeitos sonoros bem trabalhados 4/5
TRILHA SONORA: Tem apenas umas musiquinhas do tipo: “vai começar a corrida” e “que pena, você perdeu”. Fica devendo bastante a Out Run nesse aspecto 2/5
DIFICULDADE: É bem arcade mesmo. Nada de muito complexo. Quando pega a manha de controlar o carro na derrapagem fica mais fácil 3/5

DADOS

NOME: Road Fighter
PLATAFORMA: MSX 1, NES
DISPONÍVEL EM: PC via emuladores
ANO: 1985

* * *

38 Respostas

  1. Quando meu carro batia, eu sacudia rapidamente pra direita e pra esquerda e conseguia me safar, na maiorias das vezes. :)

    A Konami realmente reinou na era do MSX, trocentos jogos bons. Eu gostava muito de Knight Mare, Goonies e Hyper Rally. Ah, e Road Fighter, claro rsrsrs

    Sugestão de review: Bosconian, da Namco :D

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    • O Euler, autor deste review, me mostrou que se colocar para o lado em que o carro está derrapando, ele volta, garantido. Como o natural é colocar para o lado inverso da derrapagem, acaba sendo difícil, eu experimentei eheheheheh

      Vai ver você conseguia colocando pros dois lados quando passava mais tempo segurando para o lado da derrapagem uahuahuahauha

      Goonies já teve review dele aqui, clica na aba “Ontem” acima do banner do blog e comenta lá!

      Abração!

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  2. Que nostalgia, Euler! Eu lembro dessa sensação de procurar um jogo no meio de uma fita enorme:

    Piiiiiiiiiiiiii-té!
    ACHEI: roadfighter.bin
    Piiiiiiiiiiiii-téééééééééééééééééééé!
    **Telinha da disprosoft com a nave espacial**

    Muito bom… eu acho :)

    Joguei muito Road Fighter, adorava os gráficos.

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    • Pelo jeito o Gagá tinha o Hotbit! Lembro que no da Sharp era em português mesmo, o ACHEI. No Expert era Found hehe

      O Gagá lembra daquele software, o BCP, que usávamos para copiar os jogos de fita-pra-fita, fita-pra-disco e vice-versa??

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  3. Sim, Bosconian!! Eu lembro desse jogo!! Jogo de nave.
    Tinha uma voz sintetizada legal! Se não me engano falava: Blast off!!!!

    Charles, é provavel que seu truque funcionasse quando coincidia da derrapagem ser do mesmo lado, da primeira direção que você colocava no joystick. Assim, qnd ele derrapava para direita, vc colocava pra direita pra assumir o controle do carro e qnd vc colocava pra esquera, o carro como ja estava sob seu controle, voltava para o centro da pista! Ai funciona blz mesmo!

    Bem, pensado seu truque!!!! heheh

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    • Um dias desses vou rodar o road fighter no emulador pra usar essa técnica avançada pra conter a derrapagem rsrsrsrs a minha solução era a la Decathlon… rsrsrsrrs

      Lembro de outro jogo miserê, Payload, que você dirigia um caminhão pelas cidades de Tokio.

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      • Putz, PayLoad! Eu adorava esse jogo! Achava o máximo comprar acessórios para o caminhão, tudo parecia tão interessante…

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      • PayLoad, claro!!!

        Esse jogo era do baralho!! Eu lembro que tive que conseguir um mapa real do Japão para aprender a andar pelas estradas sem me perder hehe

        Agente ia pegar um serviço e às vezes era um serviço mais sujo, ai a policia passava a perseguir a gente hehe

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  4. cara eu joguei esse jogo algumas vezes no meu dynavision… se não me engano o nome que tinha era “super sprint” ou algo assim… mas eu achava muito dificil e não tinha muito saco…rs mas essa historia das fitas k7 era sinistro mesmo…rs cabiam muitos jogos numa “basf 90”?

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  5. Eu copiava os jogos na casa de um amigo, ele tinha 2 Data Coder, Lembro como se fosse ontem, o primeiro jogo que eu copiei (ou seja, o primeiro que não comprei) foi o Yiear Kunk Fu II, jogão por sinal, um dos precurssores de Street Fighter :D Até o KO entre as barras de energia dos lutadores é o mesmo esquema

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  6. Infelizmente minha experiência com o MSX é muito pouca, apesar de ter jogado muitos games pelo CP-400, que também usava fitas k-7 -, e que demoravam séculos para carregar. Com certeza Road Fighter é mais um game para adicionar à lista de pendências… rsrsrs

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    • Minha experiência em MSX foi razoavelmente frequente justamente por causa do guru de MSX autor deste post. Eu esperava ansiosamente o cara estar aqui em Salvador (ele passava tempo demais no interior da Bahia, eu pensava uahuahauhauha) e quando ele chegava, passava em minha casa, a gente jogava uma ou duas partidinhas de Atari 2600; então eu dizia com cara de pidão: “Euler, a gente já pode ir pra sua casa?” uahuahuahauhauha

      Pudera, enquanto H.E.R.O. era o melhor e mais bem feito que havia, na casa de Euler eu jogava era Knight Mare e Goonies. Pitfall 2 do Atari até existia mas simplesmente não se encontrava este cartucho naquela época por aqui. Euler tinha isso tudo nas BASFs dele lá! Comprava na Mesbla e na Sandiz se eu não me engano, Euler? E copiava não sei de quem também uhauhauhauahuah

      Quando a gente terminar de jogar as novidades todas que ele tinha, eu ainda pedia: “coloca aquele cartucho de demonstração!” acho que era “se ligue no expert” ou algo assim…..

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      • E eu ficava doido pra voltar pra Salvador Eric!!!! Minhas férias aqui eram sempre sensacionais!!!!
        Ficava muito isolado lá no interior. Não tinha com quem jogar video-game rsrs

        Sandiz!!! Peguei alguns jogos lá mesmo!! Lembro de GunFight…. Funcionava onde hoje é a praça de alimentação do 3o piso do Iguatemi.

        Sabe o Mr Chin que eu doei para seu museu? Foi comprado na Mesbla do shopping Piedade, juntamente com meu Expert!!! Cuida bem dele, viu? Tem valor sentimental. hehehe

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        • ehehehehehe pode deixar, está lá num local especial do maleiro do SuperConsole :-)

          Putz, você comprou no Piedade? Tinha certeza que teria sido no Iguatemi mesmo!

          Uma coisa que acho que deviam ter feito em algum teclado pra IBM-PC eram aquelas setas azuis, enormes do teclado do seu MSX. Euler, era só no Expert daquele jeito ou todos MSX tinham teclados com aquelas setas enormes, super legals?

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          • O teclado do Expert era tão bom que eu preferia jogar nele, do que no próprio joystick.

            O HotBit também tinha umas setas enormes, acho que até maiores que as do Expert.

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  7. Parabéns Euler, essa pérola é das brilhantes.
    Minhas memórias do MSX são difusas já que não tive um, jogava na casa de meu primo. Esse jogo não peguei na época e me arrependo, mas eu ACHO que tinha pra arcade não tinha não?

    Digo isso porque no Gameroom do XBOX (jogo que simula uma loja de arcade onde você pode jogar nas versões virtuais das máquinas, com direito a por ficha e tudo mais) tem um jogo de corrida que parece road fighter, vou entrar nele hoje pra conferir se é ele mesmo.

    No mais, o Píiiiiii do gagá foi impagável, hahaha. Instant memory recall.

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    • Sim Danilo, esse jogo tinha pra Arcade.

      Eric, me mostrou no GameRoom a versão do Arcade e pude constatar que não é igual ao do MSX não.

      Achei melhor a do MSX ;-)

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      • O antigo Playgame no Iguatemi tinha o Road Fighter. Voltando um pouco no tempo, lá no iguatemi, onde hoje é a H. Stern, tinha o Baita Burger e um fliperama. Tinha vários jogos legais lá. Na frente deste fliperama tinha outro que era justamente o PlayGame.

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        • uhauhauahuah, acho que era “Big Burger” – você misturou “Baitacão” que ficava no Rio Vermelho com o Big Burger, eheheheheh, depois realmente rolou o playgame na frente, mas bem depois (era um parquinho com alguns arcades na entrada, não era? eheheheheh)

          Era meu passeio de domingo, começava a “imploração” pra meu pai desde o sábado: “amanhã vamos no fliperama, né?”

          Quando eu fiquei “maiorzinho” e pude ir sozinho praquele fliperama, fui logo roubado enquanto jogava Shinobi. Trauma de cara, então passei a ficar assustado pra ir sozinho lá, e passei a ir só com colegas… Pelo menos aqui em Salvador, fliperama mesmo em shopping era perigoso na década de 80 eehehehehehh

          E era lá que eu tenho minhas primeiras lembranças arcadianas que incluem Road Fighter, Pole Position II, Shinobi e Xevious…

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          • isso mesmo, Big Burger rsrsrsrrs Também joguei nestes 2 arcades:
            Galaga, Galaxian, Street Fighter 1, Rally X. Mr. Do, Gladiator, Jail Break, Green Beret, Circus Charlie, Tokio… Se eu lembrar de outros, eu falo por aqui

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          • Rapaz… não era big burger não rs

            Se não me engano. era uma lanchonete chamada Peps. Era a mesma lanchonete que tinha no Boulevard 161. Lembro disso pq comemorei meu aniversário uma vez lá rsrs

            Esse lance de fliperama era bizarro mesmo. Meus pais não gostavam que eu frequentasse aqueles lugares, pois sempre tiveram um ambiente meio pesado. Eu tb não gostava de gastar minha mesada nesses lugares, ia mais para olhar o pessoal jogando.

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  8. Jesus, 15 minutos pra procurar um game numa fita k-7??
    Por isso amo a modernidade e seus loadings de 15 segundos…

    Eu achava que Road Blaster era da Square, mas lendo o review me dei conta de que é da quase falida Konami.

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    • Que jogo é esse, Road Blaster? Ou você quis dizer Road Fighter? rsrsrs

      E a Konami tá quase falida? Não tava sabendo. Vou até pesquisar isso, uma empresa que nos trouxe clássicos de tão alta qualidade não pode falir assim…

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  9. Ótimo review. Só joguei Road Fighter no NES, mas na época não me agradou muito. Como eu nunca tive um MSX fiquei impressionado de como funcionava a fita K-7 nele, enquanto outros relembramo. Gosto quando você fala de detalhes técnicos nos seus reviews, isso os torna mais interessante.

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  10. Poxa, lembrei de outro jogo massa (e que não é da Konami): The Castle. Alguém aqui completou todas as salas ? Eu passei pouco mais da metade rsrsrrs

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  11. The Classe = The Casttle rsrsrrsr

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  12. Eu ainda jogo dia sim dia não esse jogo!!!

    é muuuuito bom

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  13. Excelente post Euler!
    Road Fighter sempre foi um dos meus favoritos. Jogava muito no arcade e no MSX.
    No MSX nao aparecia o trem ou o Superhomem nos momentos de maior tempo em velocidade maxima.
    Realmente a Konami substituio o carrinho listrado do gas extra pelo coracao,
    Eram longos 15 minutos de espera pela tela inicial. E se a fita tivesse um amassadinho no minuto 14:58?? Ja era… tudo perdido.Nunca carregava o jogo.

    Road Fighter tem um ancestral: “Super Speedracer”

    Mas assim caminha a jogabilidade… Esperar 15 minutos ontem, hoje 15 segundos, e amanha? Nossos netos:” Vo^! Naquele tempo voces conseguiam jogar segurando joysticks?? Plasma-o que? HD? Poxa que atraso!”

    Valeu Euler!

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    • Valeu Andrey!!!

      Só para esclarecer a polêmica dos 15 minutos… o jogo demorava uns 2 ou 3 minutos para carregar. Era um jogo pequeno mesmo para os padrões da época. O que demorava é posicionar a fita no lugar correto para somente assim começar a carregar o jogo heheh

      Abração!

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  14. Lembrei de outro clássico, o Hyper Rally, também da Konami, pra variar rsrs E quem lembra dos jogos mais “robutos” do MSX que eram em preto e branco, como After the War e Robocop ? Depois disso só joguei em P & B no SNes de meu primo que a TV de casa dele não tinha NTSC eheheheh :P

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    • Hyper Rally também é um clássico! A jogabilidade dele lembrava a de Pole Position do Atari. Só que bem mais bem feito hehe

      Eu tinha todos esses jogos que vc citou: After the war e Robocop. ATW era um jogo de porrada pós-apocalíptico. Era bem feito, mas era mais do mesmo, eu achava…. agora Robocop era sensacional! Quem lembra daquela cena que a garota estava sendo estuprada e o Robocop dá um tiro entre as saias da garota e acerta o bandido bem naquele lugar? O jogo reproduzia de forma muito divertida essa cena.

      abs

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  15. *robustos

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